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Suzano vai usar instrumentos acústicos de percussão, como berimbau e pandeiro, processá-los em pedais de efeitos e reproduzir gravações digitais para criar ritmos | Divulgação
Suzano vai usar instrumentos acústicos de percussão, como berimbau e pandeiro, processá-los em pedais de efeitos e reproduzir gravações digitais para criar ritmos| Foto: Divulgação

Percussionistas brasileiros foram precursores

Quando se menciona casos como o do percussionista Paulinho da Costa, o único brasileiro a participar do álbum mais vendido na história da música pop – o Thriller, de Michael Jackson, lançado em 1982 –, logo vem à mente o talento "natural" que os brasileiros têm para ritmos. Essa é uma característica de que muitos dos fãs brasileiros do Red Hot Chili Peppers também poderiam se orgulhar, sabendo que o catarinense Mauro Refosco acompanhava os californianos no palco, durante o último Rock in Rio. A contribuição desses instrumentistas em discos importantes do pop e do rock pode fazer pensar que o Brasil, beneficiado pela diversidade rítmica do seu folclore, ocupa um espaço de destaque na música mundial.

Isso é verdade quando se trata de precursores como Airto Moreira e Naná Vasconcelos, de acordo com o percussionista Marcos Suzano. "Eles mudaram o pensamento geral. Quando Airto foi tocar com Miles Davis, fez um negócio completamente fora do papel do ritmista. Ele colocou outros sons, outras frequências, ideias, materiais, quando no mundo inteiro rolava a ditadura da conga e do bongo", diz o músico carioca. No entanto, para Suzano, uma análise do pop mundial mostraria que a quantidade de brasileiros envolvidas é "ínfima", o que seria insuficiente para se "pleitear" uma posição de destaque. "Há uma supervalorização do percussionista brasileiro no Brasil. Por mais que a presença do Naná e do Airto internacionalmente seja importante – e eles mudaram a história –, o percussionista brasileiro é um pouco acomodado, porque acha que está no DNA. E fica aquele negócio de sempre achar que, por ser brasileiro, por tocar maracatu e samba, sabe tudo. Isso me incomoda, porque vejo músicos incríveis no mundo inteiro. Talvez esteja na hora de deixarmos de ser ufanistas", diz.

Penico e caçarola

Naná Vasconcelos não hesita ao assumir a mudança que sua geração promoveu na década de 1960. Para ele, a percussão é invenção brasileira, criada por músicos como Hermeto Paschoal, Airto e o próprio Naná. "A partir dali, penico, caçarola, tudo virou instrumento. Passou a ter um lado abstrato na percussão em si, na maneira de tocar. O percussionista deixou de ser a segunda pessoa do baterista, que tocava bongô e maraca, e começou a pegar objetos que não eram instrumentos, como a queixada de burro. Abriu esse leque, essa complexidade. E nós somos os pioneiros."

De acordo com Naná – que, dentre inúmeros instrumentos, toca água – a percussão passou a estar mais ligada à criação sonora. E a criatividade de músicos como Naná e Airto, para o percussionista curitibano Vina Lacerda, foi o que influenciou definitivamente a música popular. "Eles colocaram dentro do universo do jazz o colorido, o livre, o solto. Chegaram ao mercado de jazz sem estar tão apegados às formas", diz. Esta liberdade, para Lacerda, é uma das características mais marcantes da percussão como instrumento solo. "É a possibilidade de timbres que a gente tem, de inventar, criar texturas não convencionais, enfim – coisas que as pessoas não estão acostumadas a escutar."

Uma das ideias por trás do show que o percussionista Marcos Suzano apresenta hoje, às 20h30, no Teatro da Caixa, é "falar o mínimo e tocar o máximo possível". O carioca, que diz se tornar um receptor de ritmos quando toca, deve apresentar cerca de 50 minutos ininterruptos de música, utilizando apenas instrumentos de percussão e equipamentos eletrônicos.

"No fundo, o percussionista é um transmissor", diz Suzano, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. "Quanto tenho que me manifestar musicalmente, tento fazer as ideias fluírem o mais rápido possível", explica o músico, que já trabalhou com artistas como Paulo Moura, Zizi Possi, Marisa Monte, Gilberto Gil e Lenine – com quem lançou o disco Olho de Peixe, em 1993.

É de conceitos que a apresentação do músico é composta – menos ao estilo dos virtuoses e mais próxima de percussionistas como Naná Vasconcelos, por exemplo. Em cada "movimento" do show, Suzano vai apresentar ideias de ritmos com instrumentos acústicos de percussão, como berimbau, caxixi, cajon, calimba e pandeiro – para o qual chegou a criar uma técnica específica.

Camadas

Com um pedal eletrônico, Suzano grava o ritmo de cada instrumento, que reproduz enquanto toca, ao vivo, outra levada. "Ao mesmo tempo que apresento cada instrumento, mostro a montagem das ideias de ritmo combinando sons bem diferentes", explica Suzano, que já misturou percussão à música eletrônica em trabalhos anteriores, como Flash (2000). Completam a discografia de Suzano os discos Sambatown (1996), seu primeiro trabalho solo, Satolep Samba Town (2007), com Vitor Ramil, Atarashii (2008) e Trio 3-63 (2009), com Paulo Braga e Andrea Ernst Dias.

Percussão solo

É comum associar percussionistas a músicos que acompanham os arranjos dos instrumentos principais – os chamados "ritmistas". Trabalhos em que a percussão é o instrumento principal são menos comuns. A possível estranheza do público com um show solo de um artista que frequentemente compõe apenas a "cozinha" da produção musical, de acordo com Suzano, é resolvida com boas ideias – algo que Naná Vasconcelos faz com maestria. "Muitas vezes vi o Naná tocando e perguntei de que nave ele desceu", brinca Suzano. "Os conceitos e ideias que ele apresenta trazem a música mais para perto das pessoas. Porque o virtuose afasta. As pessoas veem e pensam: ‘nunca vou chegar nisso aí’. O conceito, por outro lado atrai", diz Suzano.

No entanto, a imprevisibilidade da reação da plateia e do resultado de sua apresentação – que, de acordo com o músico, surpreendeu a ele mesmo – pode ser positiva. "Talvez seja mais legal não entender do que entender. O bacana é exatamente a gente poder criar essas possibilidades de manifestação em que o cara vai se deparar com uma coisa que ele nunca viu."

Serviço:

Marcos Suzano na Série Solo Música. Teatro da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Hoje, às 20h30. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)

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Interatividade

Por que, na sua opinião, a apresentação solo de um percussionista causa estranheza quando o mesmo não ocorre com músicos que tocam outros tipos de instrumento?

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