Maria Ester Brandão, Olga Kiun e Maria Alice Brandão ajudam a preservar a tradição local na música erudita| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Pioneiras da música de câmara na década de 1930, Bianca Bianchi, Renée Devrainne Frank e Charlotte Frank, do Trio Paranaense, foram importantes personagens da vida cultural de Curitiba, e até hoje são representativas da relevância que as composições clássicas têm na história da cidade. Mas elas não gravaram nenhum disco no Paraná, o que também é significativo. São poucas as gravações eruditas na história fonográfica do estado.

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"Pelos meus cálculos, a produção total estava em torno de 80 títulos, considerando LPs e CDs. Isso é muito pouco para o Paraná, que tem uma história de música erudita muito intensa", diz o produtor Alvaro Collaço.

Foi trabalhando com outro trio de musicistas, décadas depois, que Collaço, ao lado do também produtor Oswaldo Aranha, resolveu evitar que a lacuna aumente. O Trio Brandão-Kiun, formado pelas irmãs Maria Ester (violino) e Maria Alice Brandão (violoncelo) e pela pianista russa radicada em Curitiba Olga Kiun, lançou recentemente a primeira gravação paranaense com essa formação camerística. Produzido por Collaço e Aranha, o disco, gravado com apoio de um edital da Fundação Cultural de Curitiba, traz um repertório russo-brasileiro, correspondente à formação do trio – as obras Trio para Piano, Violino e Violoncelo em Sol Menor, Opus 9, do carioca Henrique Oswald, e o Trio N.º 1 em Ré Menor, Opus 32, do russo Anton Arensky.

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Apesar das nacionalidades diferentes, os compositores compartilham a linguagem desvinculada do pensamento nacionalista, tão comum à sua época (os dois foram contemporâneos). "A obra do Oswald é pouco divulgada, e a gente achou que iria combinar com o estilo do Arensky", explica Maria Ester. "A primeira opção seria o Villa-Lobos, mas ele pareceu ter um estilo muito diferente. Então procuramos um compositor mais afim, para dar certa coerência", explica a violinista.

O trio de Oswald – de acordo com o maestro Osvaldo Colarusso, que assina a apresentação do CD, a melhor obra camerística do país no século 19, em termos de acabamento – não tem os elementos do nacionalismo musical brasileiro, com abundância de ritmos folclóricos, por exemplo. O estilo se aproxima mais da música francesa de Gabriel Fauré ou César Franck, como explica Maria Ester. A parte de Arensky, por sua vez, também não traz os temas russos. Sua "obra-prima camerística", para o maestro Colarusso, o aproxima mais de Schumann e Mendelssohn.

Gravação

O CD foi gravado em junho de 2009, no pequeno auditório do Teatro Positivo – de acordo com Oswaldo Aranha, com a estrutura que os produtores tinham disponível. "Não tivemos a oportunidade de buscar gravadoras de fora. Mas acredito que de forma alguma isso prejudicou. O retorno que tenho tido de pessoas que entendem e gostam de música tem sido o melhor possível, tanto do ponto de vista técnico quanto do artístico", diz o produtor.

"Acho que este CD pode abrir portas para o Trio Brandão-Kiun e para o pessoal enxergar que existem bons artistas no Paraná. Temos bons estúdios e dá para fazer coisas muito boas", diz Aranha. "E também para que se veja que é preciso preservar as coisas, se não elas correm e não ficam registros."

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O disco está à venda em Curitiba em lojas como a Livrarias Curitiba e Trovatore (Rua Lamenha Lins, 62-A). Em breve também estará em outros endereços da cidade.

Serviço

Trio Brandão-Kiun. Independente. Preço médio: 22,90. Erudita