Carlos Careqa não suporta mais essas “cantoras que gostam de compor sobre o amor”. O músico tem faniquitos ao ouvir aquelas letras “em tom de vamos dar as mãos”. Sem contar “os barbudinhos da MPB que fazem música fofa”. “É um horror”, sentencia.
Sua reação natural foi criar um “antídoto para essas músicas fofinhas que nos cercam por todos os lados”. Ele veio em forma de disco: Por um Pouco de Veneno, lançado no início deste ano, é seu segundo tributo ao músico esquisitão, compositor e ator norte-americano Tom Waits.
Carlos Careqa. Barbearia Espiritual Discos. Preço médio: R$ 25. Disponível no Spotify, Rdio, Deezer e iTunes.
Gravado ao vivo no Sesc Belenzinho, em São Paulo, o álbum respeita a aura soturna do homenageado, hoje com 65 anos, ao mesmo tempo em que confere um bom humor extra às canções –por causa do equilíbrio entre os arranjos elegantes de Marcio Nigro (teclado, sampler, cello, violão, guitarra) e Mario Manga (guitarra, violoncelo) e a tuba de Luiz Serralheiro Pop, que faz as vezes de baixo em todo o álbum.
Também há participações das cantoras Fabiana Cozza e Bruna Caram em “Perdoa Minha Cara” e “Olha pro Céu”, respectivamente.
Tom Waits tem 18 discos lançados (o primeiro em 1973, o último em 2011). Por um Pouco de Veneno não prioriza nenhuma fase em particular. Entre as 13 faixas, estão versões mais “literais”, como “Um Pouco de Veneno”(“Little Drop of Poison”) , a vaudevilleana “Deus Saiu à Negócios” (“God is Away on Business”) e a singela “Bicicletas” (Broken Bycicles). Mas Careqa acerta mesmo quando dá cores regionais às músicas, caso de “Me Perdi” (“Bottom of the World”), em que consegue falar de Dalton Trevisan, quibe, rollmops e Paulo Leminski sem forças a barra; e de “O Piano Andou Bebendo” (“The Piano Has Been Drinking”), em que avisa: “São Paulo é tão bonita que eu não vou mais mijar no chão.”