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E lá se foram cem anos, desde que o fotógrafo amador, dono de livraria e tipógrafo Annibal Requião filmou o desfile militar em comemoração à Proclamação da República, em 1907. A data foi comemorada no último dia 15 de novembro, com uma retrospectiva de filmes paranaenses promovida pela Associação de Vídeo e Cinema do Paraná – AVEC, em curso na Cinemateca de Curitiba (informações no roteiro).

O cinema, ao longo de 112 anos, espalhou-se pelo mundo, imprimindo em película a identidade de cada povo que o utilizou como meio de expressão artística. E quais seriam as marcas que o centenário cinema paranaense deixou em sua cinematografia?

Para Celina Alvetti, pesquisadora e professora de Cinema do Curso de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o cinema, seja qual for sua origem, gera identidades, pois permite o acesso a outros universos e narrativas. "A nossa história se narra justamente no confronto com as outras histórias – a do vizinho, do cinema curitibano, do cinema americano, com o qual convivemos desde a infância. É impossível dissociar uma coisa da outra, pois as identidades se constituem a partir desses confrontos."

"Se o cinema paranaense tem alguma identidade, ela sempre foi muito difusa, dispersa e mal compreendida intelectualmente", diz Sylvio Back, autor de Lance Maior (1968), longa-metragem que inseriu o Paraná no mapa nacional da produção de ficção.

O cineasta nascido em Blumenau viveu 30 anos em Curitiba antes de se mudar para o Rio de Janeiro, onde vive atualmente. Mesmo produzindo fora da "província" já há muitos anos, considera-se "mentalmente" atrelado "ao imaginário e à mitologia da cidade e à cultura popular cabocla e dos imigrantes, especialmente dos polacos e alemães". Sua filmografia, quase toda impregnada desse universo sulista, contribuiu com as tentativas de esboçar um rosto à produção fictícia e documental do cinema feito aqui.

"Em termos de longa-metragem, além de uma produção local invariavelmente pífia e medíocre, ao longo dos anos o Paraná assistiu a vários diretores de fora caindo de pára-quedas nos temas e paisagens que lhe eram e são estranhos", diz.

Cotidiano

As "identidades", de que fala Celina Alvetti, aparecem principalmente em documentários e curtas-metragens, responsáveis pela maior parte da produção de cinema feito no estado, que têm como foco temas do cotidiano e questões sociais. Exemplo é o documentário Índios Xetá na Serra dos Dourados (1954), de Wladimir Kozák, que figura entre os principais filmes do gênero no Brasil, sobre uma tribo então desconhecida que vivia no Paraná de forma rudimentar.

"O Paraná não tem tradição no longa-metragem. Só atualmente se observa que a produção de longa deixa de ser esporádica, especialmente de enredo. Já a produção de documentário tem alguma regularidade (alguns períodos são mais férteis) desde o seu início", conta Celina.

Duas iniciativas, nos anos 70, contribuíram para formar núcleos de cinema que, na década seguinte, dariam contornos mais definidos ao "rosto" da produção de cinema local: a criação da Cinemateca do Museu Guido Viaro, pelo cineasta e escritor Valêncio Xavier, e do Festival Nacional de Cinema em Super-8, que teve duas edições (1974 e 75) coordenadas por Back. "Períodos como o do Super-8 são importantes, pois começam a agrupar os que com o tempo se afirmariam como profissionais", diz Alvetti.

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