A montagem de Ricardo III do Projeto Shakespeare 39 trazida ao Festival de Teatro de Curitiba e apresentada no sábado (29) e neste domingo (30) peca pelo ritmo apressado, que não valoriza os silêncios, as pausas, que tanto efeito têm em uma encenação quando bem usados. Talvez por se tratar de um texto longo, com muitos personagens, foi usado na encenação um ritmo acelerado, corrido mesmo. Isso afetou a dramaticidade na atuação dos atores. Todos os personagens parecem ser guiados pelos mesmos sentimentos, todos se parecem muito entre si. Há poucas nuances.
O único que de fato se diferencia é Ricardo, mais pelo fato de que o personagem se dirige diretamente ao público, compartilhando seus pensamentos e planos. Este recurso utilizado por Shakespeare já foi apontado como o grande trunfo de Ricardo III: o grande vilão da dramaturgia mundial faz da plateia sua cúmplice, coloca-se em primeiro plano e transforma todos os demais personagens em figurantes secundários.
A montagem da paulista Companhia da Matilde, dirigida por Marcelo Lazzaratto, faz uma boa movimentação cênica e explora os recursos do palco. Os atores sustentam o ritmo ao longo das mais de três horas de palco. É um trabalho que exige muito do elenco.
Na quinta (27) e na sexta-feira (28) outra montagem de Ricardo III foi apresentada no mesmo palco do Teatro Sesc da Esquina. Naquela, do diretor carioca Sergio Módena, o ator Gustavo Gasparini ficava sozinho no palco para contar a história. As duas apresentações em sequência deram uma oportunidade (para quem se animou a ver as duas) de analisar duas montagens com propostas diferentes do mesmo texto. A montagem mais tradicional, a dos paulistas da Companhia da Matilde, atende as expectativas do publico de ver um teatro "shakespeariano" e a enxuta montagem carioca surpreendeu ao mostrar o que pode um ator de recursos, representando vários personagens com sutilezas que os distinguiam claramente uns dos outros.
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