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 | Ilustração: Robson Vilalba
| Foto: Ilustração: Robson Vilalba

655 milhões

de internautas usaram o Facebook diariamente em março de 2013. Cerca de 1,1 bilhão acessaram o site pelo menos uma vez no mesmo período.

Fonte: Facebook

A total liberdade de ideias e igualdade de voz entre os usuários inspirou as melhores expectativas em relação à internet: o ciberespaço seria uma estrutura que permite o ressurgimento de uma esfera pública, com múltiplos espaços de discussão. Mas o clima de agressão e a aparente pouca abertura ao diálogo percebida em espaços como o Facebook não colocaria em xeque esta visão?

Para Kelly Prudencio, coordenadora do grupo de pesquisa em Comunicação e Mobilização Política do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, há iniciativas salutares na web que utilizam redes sociais – incluindo grupos organizados e com projetos políticos –, mas a interação problemática que se manifesta na rede é um balde de água fria em muitos pesquisadores que acreditavam piamente que a internet seria o renascimento do espaço público.

"Todo mundo concorda que é o reino da expressão. Todos podem se expressar na internet. Mas isso não significa que são ouvidos", diz.

A pesquisadora explica que o debate público pressupõe a troca de argumentos informados e racionais. Um tem que aceitar o argumento do outro como legítimo. "O que acontece nestes embates é a completa desqualificação e deslegitimação do outro como interlocutor", diz.

Ainda de acordo com Kelly, a justificação pública é um dos pressupostos para o debate democrático. Como na interação por meio do computador o usuário não precisa arcar com as consequências do que diz (leia mais na matéria anterior), o campo fica aberto para este tipo de irresponsabilidade. "Se apenas me coloco a favor ou contra, só expresso uma reação ao que foi dito. Sem justificação, não há debate", explica Kelly.

O professor de Filosofia Contemporânea da UFPR Paulo Vieira Neto lembra que esta ausência de regras mínimas dificulta a construção de contribuições sólidas para a democracia. "Não há a formação de uma corrente de opinião pública estável a partir destas reclamações. Não é um lugar em que se consiga criar valores, justamente porque vale tudo lá dentro. É muito difícil tirar daí a construção de uma coisa que possa ter repercussão política, ética", diz.

Para Kelly, uma possível consequência da radicalização deste cenário inflamado seria uma diminuição na participação dos usuários em discussões. "As pessoas podem optar por se expressar menos para evitar confusão", diz Kelly, citando a teoria da Espiral do silêncio, da cientista alemã Elisabeth Noelle-Neumann (1916-2010), segundo a qual as pessoas deixam de emitir suas opiniões quando são minoritárias, com medo da sanção. "Talvez tenhamos que revê-la", diz.

Para a professora e pesquisadora Raquel Recuero, do Programa de Pós-Gra­duação em Letras e do Curso de Comunicação So­cial da Universidade Cató­lica de Pelotas, não é possível afirmar para onde o comportamento nas interações via redes sociais na internet está indo, mas há dois caminhos possíveis, que podem ser decisivos para o futuro do ciberespaço: os usuários podem moderar seus pensamentos e discutir; ou se fechar. "Se o espaço se tornar extremamente agressivo, se a violência dominar, ele não vai se tornar uma esfera pública no sentido democrático", diz Raquel, para quem os indícios positivos das atividades nas redes sociais seriam igualmente contundentes. "Há casos como os de políticos sendo acompanhados, processos sendo cobrados como antes nunca se viu na história", defende Raquel. "Estamos em um momento de transição."

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