Apesar de os requintados salões do Castelo do Batel serem conhecidos por suas preciosidades históricas e artísticas, como as paredes enfeitadas e o vitral da escadaria, criado por Alfredo Andersen, a maior riqueza se encontra no alto da casa, em um sótão de aproximadamente 600 metros quadrados. Todas as suas paredes são revestidas por pinturas do artista curitibano Miguel Bakun, considerado por muitos, o "Van Gogh brasileiro".
De acordo com o superintendente e herdeiro da casa, Marcelo do Amaral Lupion, neto do ex-governador Moysés Lupion, antigo proprietário do imóvel, as pinturas foram realizadas durante o início da década de 50, quando Bakun passou cerca de seis meses vivendo no castelo. "A família nunca soube do motivo do artista estar vivendo aqui, mas acredita-se que ele estaria trabalhando na restauração de algumas pinturas da casa. Uma de nossas restauradoras reconheceu a sua técnica em algumas obras", explica.
Todas os cantos do sótão foram cobertas pela obra de Bakun. Nem mesmo as vigas e as colunas foram deixadas de lado. Grande parte dos painéis são registros das viagens que o artista fez ao exterior, quando ainda estava na Marinha. Touradas na Espanha e passeios pelo deserto do Egito são alguns dos temas mais presentes.
As belezas naturais do Brasil e do Paraná também estão presentes nas paredes, por meio da pintura de paisagens típicas e de cenários tropicais, com a presença de tribos indígenas e animais. A torre da casa também foi ocupada pelo artista, que decidiu registrar ali a sua paixão pelas paisagens marinhas, criando a sensação de que se está dentro de um farol, observando o oceano, as baleias e as embarcações. "O meu avô sempre foi um apreciador das artes e gostava de incentivar as novas gerações de artistas, como o Bakun. É como se ele estivesse retribuindo o seu gesto por meio dessas dessas obras", acredita Lupion.
Apesar de Miguel Bakun ser considerado um dos mais importantes artistas do Paraná, o seu trabalho só foi reconhecido depois de sua morte. Por ser do interior e de origem humilde, foi muito discriminado e marginalizado pela sociedade curitibana. Instrospectivo e sensível, não suportou as críticas e suicidou-se em 1963.
Autodidata, desenvolvia a pintura sem muita técnica e com toques de misticismo. Mesmo assim, era considerado um mestre e admirado por colegas, como Guido Viaro e João Batista Groff. A comparação com o pintor holandês Van Gogh existe não só porque ambos tiveram um fim trágico, mas, também, porque as cores e as técnicas que utilizavam eram bastante parecidas.
O próximo passo de Lupion é transformar o antigo sótão em um espaço cultural, aberto para estudantes e artistas. O projeto já foi encaminhado ao Ministério da Cultura e espera-se a aprovação da Lei de Incentivo para iniciar o processo de restauração. Estima-se que, em dez meses, tudo esteja pronto para a abertura.
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