"Gostaria que o prêmio desse visibilidade somente ao romance, não a mim."
Oscar Nakasato, escritor.
Oscar Nakasato (foto), natural de Maringá, mora há cinco anos na pacata Apucarana, onde leciona Literatura na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. É discreto e não gosta de falar muito pediu para dar entrevista à Gazeta do Povo por e-mail , mas o desejado anonimato se rompeu quando foi anunciado vencedor da categoria Romance do Prêmio Jabuti por Nihonjin, publicado em 2011 pela Benvirá. Viu o tema persistir no noticiário depois da denúncia de que um dos três jurados teria, com seu voto, rebaixando autores consagrados a quem ele mesmo dera boas notas na primeira fase da premiação e elevando a de estreantes como a do paranaense. A identidade do júri será conhecida apenas em 28 de novembro. A polêmica rendeu ao romance de estreia de Nakasato uma publicidade bem-vinda mas bem que ele preferiria holofotes só para sua obra, não para ele. Leia abaixo a entrevista: Qual sua ligação com o Japão?
Nasci em Maringá, mas passei a minha infância até os oito anos no município de Floresta, num sítio, cujos vizinhos eram meus tios. Portanto, cresci junto com os meus primos, todos descendentes de japoneses. Falo um japonês macarrônico, misturado com palavras da língua portuguesa, e "me viro" em conversas domésticas com a minha mãe ou com um tio, mas não consigo manter um diálogo com um japonês e quando assisto ao canal NHK compreendo pouco.
Como desenvolveu os personagens e a trama de Nihonjin?
É claro que a minha ascendência japonesa tem relação direta com os personagens e a trama criada, e lembranças minhas e de minha mãe ajudaram na configuração de alguns episódios, mas Nihonjin é, sobretudo, fruto de muita pesquisa. Li bastante sobre a imigração japonesa no Brasil e o processo de aculturação dos imigrantes para a minha tese de doutorado, que versa sobre personagens nipo-brasileiros na ficção. Aproveitei essa pesquisa para compor personagens e episódios.
Quanto tempo levou para escrever o livro?
Aproximadamente quatro anos. Foi um livro emocionalmente envolvente para você?
Sim, foi grande o envolvimento emocional, pois Nihonjin conta um pouco da história de cada nipo-brasileiro, e, afinal, eu sou um deles. No processo de elaboração do romance fui conhecendo e entendendo as dificuldades que os imigrantes japoneses e seus descendentes enfrentaram no Brasil, fui compreendendo o peso da influência cultural do imigrante sobre os filhos e os netos. Portanto, escrever Nihonjin correspondeu a um exercício de autoconhecimento.
Você escolheu falar de um nihonjin (japonês) em contraste com nossa familiaridade com os nisseis, sanseis e dekasseguis. Ele te interessa mais?
Hideo Inabata, o protagonista do romance, é um imigrante japonês extremamente nacionalista como muitos que realmente vieram ao Brasil para ganhar dinheiro e retornar ao Japão. Ao pisar em terras brasileiras, o estranhamento foi inevitável para Hideo. Tudo era estranho: os costumes, a língua, a comida. O "sentir-se" um "gaijin", ou seja, um estrangeiro, foi muito mais significativo para o japonês que para os italianos ou os alemães. O confronto entre a cultura japonesa e a brasileira foi inevitável, e daí nasce o drama, que me interessa enquanto romancista e nipo-brasileiro. Eu e todos os descendentes de japoneses somos, de certa forma, frutos do contraste entre essas duas culturas, somos seres híbridos, carregamos essa dualidade como característica básica da nossa identidade. Creio que Nihonjin é um retrato desse hibridismo. Ficou surpreso com o Jabuti?
Fiquei surpreso, sim, pois sou romancista estreante. Com o Prêmio Jabuti, o meu romance se tornou bastante conhecido, e isso é ótimo, pois creio que agora será mais lido, mas ele não está consagrado. Nenhum prêmio corresponde a um certificado de garantia. A consagração de um livro vem (ou não) com o tempo.
A polêmica em torno do "Jurado C" o incomodou?
Muito. Sempre procurei me manter distante de polêmicas, embora acredite que algumas sejam necessárias. Em relação à polêmica em torno do "Jurado C", acredito que ela seja inevitável e tenha seu aspecto positivo, pois coloca a literatura na pauta do dia. Só lamento que a polêmica seja maior que o próprio prêmio.
Como está lidando com seu nome na imprensa nacional?
Não estava preparado para lidar com essa situação. Sou tímido para dar entrevistas, gaguejo em frente às câmeras. Gostaria que o prêmio desse visibilidade somente ao romance, não a mim.
O que gosta de ler?
Leio tudo, não somente literatura. Gosto de ler jornais e revistas. Atualmente tenho lido com certa frequência as crônicas do site Vida Breve, dos quais gosto muito. E releio com prazer os clássicos da literatura brasileira em função da minha atividade docente para alunos do ensino médio. Recentemente li Eles Eram Muitos Cavalos, do Luiz Rufatto, e pensei: Poxa, como esse cara escreve! Confesso que não sou leitor assíduo de poesia, mas gosto de poetas como o Manoel de Barros e a Adélia Prado e lamento o espaço mínimo que a poesia ocupa nos cadernos literários e nas prateleiras das livrarias. Um amigo poeta, o Ademir Demarchi, diz que a poesia é fundamental numa sociedade em que o obscurantismo econômico governa a vida de todos como se fossem mercadorias. Precisamos, então, de mais poesia!
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