Thiago Pethit: cantor assume a persona de um “um dândi apocalíptico” no novo disco| Foto: Divulgação

CD

Estrela Decadente

Thiago Pethit. Tratore. R$ 24,90.

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Um James Dean de batom borrado e cigarro na boca. A imagem ultrapassa o limite da capa do CD Estrela Decadente, segundo de Thiago Pethit. Afinal, mesmo antes de existir, era a ela — à sua descrição, claro — que o compositor recorria quando precisava explicar aos outros o que desejava para o álbum. Foi essa a síntese que passou, por exemplo, ao produtor Kassin e às convidadas Mallu Magalhães e Cida Moreira. Ou seja, mais que na frente do disco, o James Dean de batom borrado e cigarro está estampado em sua sonoridade e poética, na figura do personagem descrito pelo artista como "um dândi apocalíptico" que conduz o CD.

"Esse dândi pós-moderno e apocalíptico, esse personagem que tem a voz no disco, canta por exemplo: "estou sorrindo enquanto o mundo está ruindo" ("Dandy Darling"). Ele reflete muito do que eu sou, tem um jeito de dizer o que acredito, sobre mim e sobre o mundo. Dizer que o amor não é bonzinho, não é a salvação, causa feridas fatais. E a imagem da capa amarra essa ideia de que estamos num mundo em decadência. E nesse mundo, sou uma estrela decadente."

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Não há lamento na constatação, explica o compositor: "o CD é uma celebração da decadência, é ver o mundo em decadência e falar ‘vamos aproveitar e olhar para o brilho diferente’. Porque nos momentos de crise, as pessoas ficam com medo e começam a apontar o dedo para o diferente, que se torna o inimigo. E o disco vai contra isso, é um tributo ao que parece ser feio, desajustado, mas que na verdade tem um brilho diferente, uma beleza menos óbvia.

Conceitos

Pethit identifica a decadência contemporânea ("nazistas espancando gays na Av. Paulista, a crise econômica na Europa"), linha-mestra do CD, como um fenômeno cíclico. Traça paralelos, assim, com a Berlim dos anos 1930, de Bertolt Brecht (o universo do cabaré alemão já estava na base de seu primeiro disco, Berlim, Texas), e a Nova York da década de 1970, do clube Factory, frequentado por Andy Warhol, Lou Reed e Mick Jagger.

"Fiz fotos com a banda, Cida, Mallu e Renata Bastos, crossdresser mito da noite paulistana, usando esse clima cabaré-Factory", conta Pethit.

Sonoramente, o conceito de Estrela Decadente — mistura de glamour e bas-fond, glitter e sujeira — se traduz em referências musicais ao cabaré de Brecht (das nove músicas do CD, a única que não é assinada por Pethit, só ou com parceiros, é "Surabaya Johnny", do alemão com Kurt Weill) e à disco da Factory e ao rock setentista que a circundava. "Pas de Deux" é exemplo disso, com piano de tachinha (típico do cabaré) e programação disco.

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"Procuramos pontos de encontro entre essas estéticas, como os coros doo-wop dos anos 1930 e 1940 que voltaram na discoteca dos anos 1970. E queria elementos digitais", diz Pethit, sintetizando a beleza estranha que mira no CD com uma constatação simples: "na decadência, todo mundo se mistura."