Em outubro de 2008, a cineasta paranaense Ana Johann atendeu o telefone de sua produtora, a Capicua Filmes, em Curitiba, e ouviu uma pergunta inusitada: quando custa para fazer um filme? Do outro lado da linha estava o gaiteiro Dirceu Cieslinski, de São Bento do Sul. Como se fosse um "chamado", Ana resolveu marcar uma reunião e se deparou com um rapaz de 20 e poucos anos que queria fazer um vídeo engraçado com os amigos. Ela declinou do projeto e o indicou para uma amiga (a cineasta Rosângela de Cassia Tramontini). Dias depois, Rosângela contatou Ana dizendo que a história do gaiteiro tinha potencial para um documentário, o que resultou em Um Filme para Dirceu.
VÍDEO: Assista ao trailer de "Um Filme para Dirceu"
O longa-metragem, que está entre os seis selecionados para o 45.º Festival de Brasília na categoria documentário (além de Ana, outro cineasta local, Diego Florentino, concorre na categoria de curta-metragem de ficção com Vereda), começou como projeto de um curta, sem muita empolgação: seriam sete diárias e um orçamento de R$ 150 mil, que se transformaram em três anos de gravação. Além de Brasília, o documentário também foi selecionado na sessão Doctubre do Festival Internacional de Documentários do México, que acontece em novembro. Um mês antes o filme vai rodar diversos cineclubes e sessões no país.
Fama
O personagem cativante e bem-humorado, de uma forma ou de outra, representa um sonho: imagina um filme sobre a sua vida e quer viver de música. Também deseja, nesta ordem, "gravar um filme, um CD, um DVD e ficar famoso no Brasil inteiro." "Ele sempre me apresentava como a Ana que ia fazer um filme sobre a vida dele, e isso me chamou muita atenção, algo que usei na narrativa. Quando eu contava para as pessoas, me perguntavam se ele tinha 70 anos para eu querer retratar a vida dele. E ele só tem 24", contou a cineasta em entrevista para a Gazeta do Povo em sua produtora, que funciona em sua casa em Curitiba, onde veio estudar aos 17 anos. Até então (Ana é natural de Cruz Machado, sul do Paraná), ela nunca havia ido ao cinema, paixão que começou durante a faculdade de jornalismo.
Músico desde a adolescência e gaiteiro dos bailes da região de São Bento, Dirceu teve uma mielite transversa aguda, infecção na coluna que o deixou paraplégico do dia para a noite. Ficou um ano na cadeira de rodas, voltou a andar, mas tem dificuldades de locomoção em uma das pernas. Engana-se quem pensa que ele é retratado num clichê de "exemplo de superação". Apesar de, em alguns momentos, o documentado querer isso: certas coisas ele não queria mostrar, e a cineasta teve de convencê-lo do contrário. "Disse que ele deveria deixar eu decidir e que, se ele quisesse um vídeo de casamento, eu não seria a pessoa certa. Ninguém gosta de ver uma face só, isso é muito raso e entediante. E aí ele teve de concordar." Os "deslizes" mais frequentes de Dirceu, aliás, eram os relacionamentos: trocava de namorada frequentemente e fez da cineasta a sua confidente, fatos que dão um caráter divertido ao filme.
Participativo
No seu terceiro trabalho (a cineasta já fez um curta-metragem e um média), Ana viu a necessidade de ser um personagem, e aparece em algumas situações da gravação (como quando conhece um grupo de amigos que dão a autorização de imagem diretamente para a câmera, já um tanto animados por conta da cerveja), e nas conversas por telefone todas gravadas ao longo desses anos, o que mostra a saga para realizar o filme. Vencedor de um edital do Ministério da Cultura (MinC), os primeiros R$ 30 mil foram captados pelo próprio Dirceu. Depois de negativas em projetos locais do governo de Santa Catarina, a cineasta acabou patrocinando o longa. Outra dificuldade foi manter a equipe (somente ela, o diretor de produção Marcos Freder, que é seu marido, e o diretor de fotografia André Chesini ficaram no projeto até o fim). "É normal pelo tempo que levou, e também pelo cachê baixo. O trabalho da equipe foi quase voluntário."
Além da riqueza no formato, o filme mostra os costumes do sul do país, com seus bailes e preservação da cultura alemã em Santa Catarina, algo raro nos filmes brasileiros. O rumo diferente do sonhado que a história toma e o carisma de Dirceu, crê a cineasta, ajudarão o público a se identificar com o personagem. "Acredito que ele tem um potencial bom para distribuição, ainda mais depois desse aval que os festivais acabam proporcionando." O lançamento em Curitiba está previsto para novembro.
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