Brad Pitt como o assassino Jackie Cogan em Killing them Softly, exibido em Cannes| Foto: Divulgação
Boatos sobre casamento com Angelina agitaram paparazzi

Brad Pitt está em Cannes defendendo o filme em que é personagem principal. O título, Killing Them Softly, em tradução mais adequada ao espírito da coisa, seria "matando-os delicadamente". Uma ironia, é claro, e carregada de duplo sentido. Pitt é Jackie Cogan, assassino profissional de fala mansa, alguém que não gosta que suas vítimas peçam piedade, chorem ou se arrependam no momento da execução: "É constrangedor", observa. Por isso, suas mortes são precedidas de certa delicadeza, que o recurso da câmera lenta quer sublinhar. Mas a bala que sai de sua arma é letal de qualquer maneira. Paradoxalmente, o requinte do recurso técnico e de estilo acentua a violência.

CARREGANDO :)

Ele tem também um hábito inusitado para quem é especialista em matar pessoas: é dado a observações de cunho político. E o faz com naturalidade. Quando Jackie se põe a campo para liquidar uma arraia miúda que andou roubando frequentadores de mesas de pôquer clandestinas mantidas por chefões, o pano de fundo é o forte abalo das finanças em 2008. O momento é pontuado por emissões de rádio com discursos de Obama e Bush. Os EUA estão se despedindo de um e abrindo caminho para o outro. O capitalismo está tremendo nas estruturas, a situação é grave, o pessimismo é geral e a crise, que pode matar muitos outros, também "delicadamente", está, inclusive, afetando as relações mercantis no mundo do crime, com variações de preço quanto ao numero de "encomendas".

Concorrendo à Palma de Ouro, o filme do neozelandês Andrew Dominick foi visto com reservas pela maioria da plateia de jornalistas que lotou ontem pela manhã o Grand Theatre Lumière, principal sala do Palácio do Festival. Requintadamente violento, cínico, carente de refinamento em seu viés crítico e pródigo em longos e aborrecidos diálogos e monólogos – pecado mortal nas circunstâncias –, Killing Them Sofly não deverá sensibilizar o júri presidido por Nani Moretti, em qualquer quesito. E sua sobrevivência, seja artística ou comercial, no mercado mundial, não promete carreira de números expressivos, mesmo contando com o apelo de Pitt.

Publicidade

Defesa

Na coletiva de imprensa seguida à exibição do longa-metragem, o diretor Dominick e seu ator quase fetiche (ambos trabalharam juntos há cinco anos, no muito superior O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford) defenderam o filme sem, no entanto, oferecer maior consistência nos fundamentos. Ostentando um visual de mosqueteiro – cabelos longos, bigode e cavanhaque –, simpático e sorridente além da expectativa, Brad Pitt de cara justificou a brutalidade vista na tela. "Prefiro interpretar um assassino do que um racista. Vivemos num mundo de violência, e a violência deve ser filmada. Não me incomoda filmá-la numa obra de gênero como esta. Não sei se é possível reproduzir a violência no cinema de forma romântica, mas é preciso mostrá-la na tela", disse Pitt.

Já o diretor Dominick, que adaptou para a atualidade um livro ambientado nos anos 1970, fez suas reflexões sobre capitalismo e cinema. "Sempre pensei que filmes sobre crimes, na realidade, falam de capitalismo. É um gênero que parte da suposição de que a motivação de todos os personagens é ganhar dinheiro. Por isso, não entendo porque as restrições em relação à violência no filme. Ele explica como sobreviver num mundo tão competitivo. Brad e eu buscávamos histórias sobre nosso tempo e sobre quem somos. E, nesses momentos, a crise econômica é o que ocupa as manchetes dos jornais".

Questionado sobre sua posição política em relação a Obama, já que a frase dita por seu personagem na última cena do filme – "os Estados Unidos não são um país, são um negócio" –, poderia suscitar algumas reações, Pitt se apressou em justificar: "Apoio o presidente Barack Obama. O filme não está dirigido contra ele e a frase não tem nenhuma conotação cínica. Pelo contrário, creio que é uma expressão de esperança. Os Estados Unidos são um país extraordinário, com muitas dimensões. Como integridade e justiça. Mas é preciso defender os ideais com cuidado, especialmente nos caso dos países mais poderosos".

Como sempre nas coletivas com famosos, não faltou o escorregão da tietagem, aquela interferência incoveniente que foge do tema relevante e resvala para a futilidade mundana. "Não, ainda não marcamos o casamento, tudo são boatos, não temos data ainda", responde um Pitt (ainda) sorridente, sem Angelina em Cannes e com surpreendente paciência.

Publicidade