Criações de um dos mais importantes gravadores brasileiros, o pernambucano Galvan Samico, podem ser vistas no Museu Oscar Niemeyer até novembro. Samico: do Desenho à Gravura tem curadoria assinada por Ronaldo Correia de Brito e inclui 203 obras. O diferencial da exposição, que ganhou o Prêmio Especial da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 2004, são os 45 desenhos produzidos entre 1957 e 1959, a maior parte deles do período em que Samico foi aluno de Lívio Abramo, em São Paulo. Outros são da fase em que o artista era aprendiz de Oswaldo Goeldi, no Rio de Janeiro.
O curador incluiu, ainda, as gravuras feitas entre 1997 e 2004, também praticamente inéditas em outras mostras. Duas delas "A Caça" e "A Espada e o Dragão" estão ilustradas por suas respectivas matrizes e um grande número de desenhos-estudos, conjunto que ocupa uma sala inteira da mostra no Museu Oscar Niemeyer. O visitante verá, ainda, 67 desenhos-estudos, 43 gravuras de tiragem esgotada (1959-1987), 23 gravuras raras (1957-1959), 17 obras recentes (1988-2004), oito linóleos, xilogravuras sem matrizes e duas matrizes.
O curador comenta, por telefone, que quis conferir um olhar didático à mostra. Essa intenção explica, por exemplo, a presença dos estudos e das matrizes penduradas em fios, como se fossem livros de cordel, uma grande influência da obra de Samico, a partir da década de 70. "Quis promover a entrada no conceito do que seja a gravura de Samico, mostrando que ele chega a imprimir uma obra inúmeras vezes antes de a considerar finalizada", explica Brito, que não dispôs as obras cronologicamente. Sua dica aos visitantes é que percorram a mostra com atenção para perceber o clareamento gradativo ao longo da produção de Samico.
"Sabe quando você está andando distraído e encontra algum obstáculo que o faz dar um tropeço, e quase perder o equilíbrio, para, depois, colocá-lo dentro de uma nova dimensão? Tentei fazer isso com a mostra, criei 'topadas' com as obras, que vão nos colocando nas dimensões do artista", explica.
Brito, também médico, conheceu a obra de Samico na década de 70, quando ele já se tornava um dos gravadores proeminentes do país. "Pouco tempo depois, ele passa a fazer uma única gravura por ano e a desenvolver as características que definem sua qualidade diferencial", explica o curador.
Samico começou, comenta Brito, com gravuras muito escuras, que vêm de desenhos que flertavam, bem de perto, com o expressionismo. "Ao passar por um mergulho profundo pelo universo do cordel, sob influência principalmente de Ariano Suassuna, ele começa um processo de clareamento dos seus desenhos. Eu diria que acontece um corte ríspido, sem o refinamento que o caracterizaria depois", observa o curador, citando a obra "Suzana no Banho", inspirada no Livro de Daniel, da Bíblia Sagrada, como a divisora de águas. "A partir dela, ele começa a se orientar por um eixo que quase simula um espelho, pois ele inicia um trabalho com simetrias, geometrizando os recortes de suas obras, que passam a ter um traçado mais rigoroso, com muita exatidão", observa.
Na última sala da exposição foi criada uma estrutura circular em torno dos estudos dos desenhos, para que as pessoas possam percorrer toda extensão da criação. "Sugiro que façam isso e voltem a ver a exposição outra vez. Uma mostra precisa de tempo para ser vista de verdade", diz. "A gravura é uma linguagem muito significativa para o Brasil. Mas as pessoas têm mais hábito de ver pintura a óleo, que é mais exuberante, em geral, de maiores proporções. A gravura é mais delicada e essa é uma das preciosidades desta exposição", diz.
Serviço: Samico: do Desenho à Gravura. Museu Oscar Niemeyer (Av. Marechal Hermes, 999). Até 6 de novembro. De 3.ª a dom., das 10 às 18 horas. R$ 4 e R$ 2.
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