Brancos, negros, latinos, coreanos, iranianos, policiais, ricos, pobres e criminosos. Todos se odeiam na Los Angeles quase apocalíptica de Crash – No Limite, uma das principais estréias nos cinemas brasileiros neste fim de semana. Escrito e dirigido pelo canadense Paul Haggis, roteirista de Menina de Ouro (de Clint Eastwood), o filme é uma das produções mais discutidas do ano e está cotado para estar entre os indicados ao Oscar 2006.

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Assemelhado em sua narrativa a 21 Gramas (do mexicano Alejandro González Iñarritú) e Magnólia (de Paul Thomas Anderson), Crash é conduzido por seus personagens, cujas trajetórias vão se entrelaçando para compor um painel ao mesmo tempo complexo e perturbador da sociedade urbana norte-americana neste início de século 21.

Haggis demonstra ser um observador bastante atento e crítico do que acontece em seu entorno. No roteiro, o ponto forte do filme, ele estabelece um contraste entre negros marginalizados e bem-sucedidos, mas sem esquecer que o racismo não se restringe a uma questão de classe social. Dependendo das circunstâncias, qualquer um, com ou sem dinheiro, pode ser a vítima da vez. É o que acontece quando o policial corrupto vivido por Matt Dillon se aproveita de uma vistoria para abusar sexualmente da sofisticada Nyah (Thandie Newton, de Missão Impossível 2). Por vezes, o próprio discriminado pode se tornar agente do preconceito que o vitima. É o caso do detetive defendido por Don Cheadle (Hotel Ruanda), que, ao sair do gueto, negligencia a mãe drogada e o irmão mais novo, um jovem desorientado que sobrevive de pequenos assaltos.

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Crash não se esquece, tampouco, de retratar a América do pós-11 de setembro. Numa das seqüências iniciais , o dono, de origem iraniana, de uma pequena loja de conveniência é chamado de "Osama" e agredido verbalmente. Esse mesmo personagem, movido pela tensão de não dominar a língua inglesa e sentir-se permanentemente confundido com árabes, assume o papel de algoz contra um jovem trabalhador latino que não consegue reparar a fechadura de sua loja. E é por discutir esse círculo vicioso da violência e da intolerância que Crash – No Limite ganha transcendência e relevância.

Talvez o desfecho até certo ponto redentor do filme de Haggis não deixe o público em estado de total perplexidade e desolamento. Para alguns, essa opção pode representar um ponto fraco, uma concessão a Hollywood. Mas se o espectador prestar bem atenção à derradeira cena do filme, quando a assistente social vivida por Loretta Devine perde as estribeiras no trânsito, irá perceber que embora haja uma luz no fim do túnel, o percurso está longe de ser seguro e novas colisões são mais do que prováveis. São inevitáveis. GGGG