A dramaturgia francesa contemporânea sempre esteve muito presente no trabalho de pesquisa da Companhia Brasileira de Teatro. Mas, a partir deste ano, volta a se tornar matéria-prima principal do repertório de espetáculos, que nos últimos dois anos esteve concentrado na obra do poeta paranaense Paulo Leminski, em Vida, e do dramaturgo siberiano Ivan Viripaev, autor de Oxigênio, mais recente montagem da companhia.
Para quem ainda não viu Vida em Curitiba, considerado o melhor espetáculo do país pelo 6.º Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura 2010 e vencedor de cinco troféus Gralha Azul no mesmo ano, haverá uma última chance. De 3 a 19 de junho, a montagem dirigida por Márcio Abreu volta ao cartaz no Teatro José Maria Santos.
"Fizemos poucas apresentações na cidade, estávamos com vontade de fazer mais uma temporada por aqui antes de pegar a estrada novamente", conta o diretor. No segundo semestre, a companhia segue para cinco cidades do Nordeste e participa de festivais em Blumenau, Brasília e Recife.
Fruto de um mergulho de dois anos na obra de Leminski, o espetáculo com texto e direção de Márcio Abreu, encenado por Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini, estreou no Festival de Curitiba de 2010 e logo emendou temporada de quatro semanas. Mais tarde, houve apenas algumas apresentações especiais nos espaços do Sesi e da PUCPR.
Família arquetípica
Depois disso, o público curitibano terá que esperar até setembro para conhecer o novo espetáculo da CBT, Isso Te Interessa?, que estreia no dia 15 de junho no Teatro Novelas Curitibanas. A montagem é a adaptação de uma saga familiar de três gerações narrada de um modo incrivelmente condensado pela francesa Noelle Renaude.
O texto de 2009, inédito no Brasil, foi traduzido por Márcio Abreu como uma espécie de lição de casa de uma oficina que Giovana Soar ministra na Aliança Francesa. "É claro que Giovana incluiu o texto intencionalmente em seu curso, por ele ter uma relação forte com o trabalho da companhia", conta o diretor.
Renaude narra a história de uma família por meio de situações rotineiras, banais, reconhecíveis em todas as outras famílias. A grande questão que interessa à companhia é o modo como a história se organiza dramaturgicamente. "Há uma intersecção forte entre a literatura e o teatro na construção deste texto escrito de modo muito condensado. De certa forma, se fosse para resumir, é uma peça em que o grande personagem é o tempo", conta Márcio Abreu.
Renata Sorrah
Mas o grande motivo de comemoração da CBT é a concretização de uma parceria há muito almejada. No início de 2012, Márcio Abreu dará início aos ensaios de um espetáculo que terá no elenco, além dos atores de Vida, a atriz Renata Sorrah. "A aproximação surgiu após um longo namoro. Ela acompanha a companhia há algum tempo, viu quase todos os espetáculos, e estava com vontade de realizar algo em relação à dramaturgia contemporânea", conta o diretor.
E qual não foi sua surpresa quando, ao propor à atriz a montagem de um texto do dramaturgo francês Joël Pommerat, que há algum tempo vem estudando, Márcio Abreu se deparou com uma incrível coincidência. Em uma leitura realizada com a presença da atriz, no ano passado, ela achou o nome de Pommerat familiar aos seus ouvidos. Mais tarde, já em casa, descobriu que tinha alguns livros dele, presenteados por duas amigas que lhe aconselharam a montar o autor quando desejasse encenar algo. "Foi uma incrível confluência", considera Márcio Abreu.
O diretor, que se encontra com Pommerat em junho, em Paris, percebeu uma identificação "de um pensamento de teatro" entre a sua companhia e a do dramaturgo francês, a Louis Brouillard. "Mais do que os resultados, os princípios de trabalho têm muita relação entre si", conta ele, que escolheu dois textos para iniciar o projeto: Cet Enfant (Esta Criança) e Je Tremble 1 e 2 (Estremeço 1 e 2).
"Quando monto um autor, sempre inicio o trabalho pela sua obra, de um modo mais amplo", conta. Só mais tarde a companhia concentrará esforços em montar Cet Enfant, ainda sem um título definido, que deve estrear no segundo semestre de 2012. Ele explica que o texto dá potência à discussão sobre a relação entre pais e filhos, um tema que já é tocante por si só, pelo modo como estrutura as cenas autônomas e muito condensadas.
"São quase um retrato, mas não são realistas. Cria-se, então, uma linguagem na arquitetura do texto para que quando eu leia, ou veja a sua encenação, tenha acesso a um mundo que posso considerar real. A partir disso, posso propor o encontro com público, é um material dramatúrgico que se presta a esse exercício que a gente já vem fazendo há alguns anos na companhia", diz.
Serviço: Vida (confira o serviço no Guia Gazeta do Povo)
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