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João Valadares e Fabiana Loyola vivem um amor em meio ao abandono | Tiago Lima/Divulgação
João Valadares e Fabiana Loyola vivem um amor em meio ao abandono| Foto: Tiago Lima/Divulgação

"Não vamos fuçar nossos defeitos/ Cravar sobre o peito as unhas do rancor/ Lutemos mas só pelo direito/Ao nosso estranho amor." A música de Caetano Veloso dá nome à peça Nosso Estranho Amor, da mineira Preqaria Cia. de Teatro, e diz muito sobre o que se verá no pequeno palco do Teatro Paiol, nos dias 22 e 23, durante a Mostra Contemporânea do festival de Curitiba.

A companhia, que desde seu primeiro trabalho, Qorpo Santo, investiga o Teatro do Absurdo, usa textos do dramaturgo irlandês Samuel Beckett como referência para contar uma história de amor entre um homem recém-expulso de casa (João Valadares, autor do espetáculo) e uma mulher que trabalha nas ruas (Fabiana Loyola). "Beckett trata em seus textos de personagens à margem, abandonados", explica Valadares, que pôs a novela Primeiro Amor em diálogo com O Expulso, O Calmante e O Fim.

Mas o grande tema deste espetáculo vencedor do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz de 2008 é o amor, por mais absurdo que seja. E, para falar dele, Valadares se nutriu seja dos textos existencialistas de Albert Camus, como O Avesso e o Direito, seja de seus próprios poemas românticos publicados no livro inédito Clichês e Flores. "Camus tem uma sutileza que achamos que tinha a ver com esta outra faceta da peça que é o amor, que brota neste estar à margem. Já o livro de poesia trouxe a maior parte das palavras ditas", conta Valadares.

O Homem tem um vasinho de violetas e, em seus textos, ele usa constantemente a metáfora da flor para o amor. Já a Mulher cantarola trechos de canções de Caetano Veloso – que também são executadas ao vivo pelo violonista André Milagres e a violinista Luiza Anastácio. "Ela acha que as letras dizem tanto sobre ela que começa a incorporar seus significados ao cotidiano e a identificar os personagens das canções com este homem por quem se apaixona", explica Valadares.

O Homem identifica nisso um comportamento de quem não se atém muito as coisas. "Ele diz que ela está sempre em busca do novo, está sempre passando de uma busca a outra" completa Cláudio Dias, da Cia. de Teatro Luna Lunera, que dirigiu o espetáculo e foi responsável pela preparação corporal do elenco.

Colaboração

Ele trouxe a experiência colaborativa que vivencia em sua companhia para ajudá-lo nesta que é sua primeira direção solo – antes, co-dirigiu o espetáculo Aqueles Dois, exibido no Festival de Curitiba de 2008. "O espetáculo é construído por todos da equipe, contei muito com experiência de João e Fabiana para chegar em um lugar bonito e delicado que toque as pessoas", diz.

Ele explica que o processo colaborativo, sistematizado pe­­los integrantes do Teatro da Vertigem, de São Paulo, serviu para que ele e os integrantes das Luna Lunera e da Preqaria, em constante relação, fossem levados a atuar em outras frentes. "Como o caminho da direção, da auto-direção, de escrever textos, pensar no cenário."

Trabalho corporal

O personagem masculino, ao escrever sua história, conduz a narrativa. "Mas a maior parte das falas vem de poemas", diz Valadares. É o toque, o olhar e o movimento dos atores que, na verdade, norteiam a concepção das cenas. Uma questão trazida por Dias a partir de sua experiência na Espanha, em 2006.

Ele confrontou as técnicas de "contato de improvisação" e view points. "São técnicas para provocar jogos que aproximam os dois atores. Eles estão sempre ligados, seja pelo olhar, pelo to­­que, pelo diálogo. Ao mesmo tempo, são questões imperceptíveis para o público, a relação dos personagens se estabelece de uma maneira muito simples", diz Dias.

Orientador do Balé Jovem do Paço das Artes, em Belo Horizonte, Dias introduziu a dança na encenação como um caminho "para chegar na delicadeza necessária para falar do amor", como explica Valadares. "O espetáculo ganha uma coreografia mais próxima da dança contemporânea. Em uma das cenas ápices, por exemplo, a relação sexual entre os dois personagens acontece como uma dança, feita pela técnica de contato de improvisação", explica o ator.

Confira a programação completa do Festival de Curitiba. Acesse http://guia.gazetadopovo.com.br/teatro.

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