"Acho que podemos ser amigáveis uns com os outros, gostar uns dos outros. Mas não conseguimos conviver, nem nos comunicar." A frase de Dee Dee Ramone, ex-baixista da banda punk nova-iorquina Ramones, é a pancada inicial de End of the Century – The Story of the Ramones, documentário lançando em 2003 e que acaba de ganhar edição nacional em DVD. Dirigido pela dupla Michael Gramaglia e Jim Fields, End of the Century... segue um preceito parecido com o de Some Kind of Monster, documentário sobre a realização do nono álbum de estúdio da banda Metallica: mostrar o "lado negro da força", ou seja, os bastidores mais obscuros, conhecidos apenas pelos que acompanhavam o grupo de perto.

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Diferentemente do Metallica, que, frente às câmeras, tentava lidar com o excesso de egocentrismo e um bloqueio criativo, os problemas internos dos Ramones, apesar de mais "cotidianos", aparecem desde o início de sua formação: abuso de drogas e álcool, disputa por namoradas e pelo título de porta-voz do grupo e a dificuldade de se fazer vender.

Formada em 1974, por Joey, Dee Dee, Johnny e Tommy, a banda fez da falta de técnica musical seu diferencial e inaugurou o chamado punk rock, com canções rápidas, de poucos minutos e acordes e versos considerados "mórbidos" na época. O documentário recria a trajetória do grupo e solidifica sua importância vital para a história da música com entrevistas de gente que viveu o início da cena punk como Joe Strummer (The Clash), Legs McNeil (criador do fanzine Punk) e Debbie Harry (Blondie), além de admiradores da nova geração como John Frusciante (Red Hot Chili Peppers), Rob Zombie (White Zombie) e Lars Frederiksen (Rancid).

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Além das imagens das primeiras apresentações – uma delas mostra uma discussão em pleno palco –, os momentos mais interessantes de End of the Century... são as entrevistas com o ríspido Johnny Ramone, integrante que sempre puxou para si a tarefa de botar ordem na casa e carregar a banda nas costas, ditando as regras a seu modo. Sem falar no episódio em que o vocalista, Joey, perde sua namorada, Linda, para o guitarrista, fato que os manteve afastados, desde a década de 1980 até o fim de suas vidas. Os diretores, com muito custo, ainda conseguem arrancar de Johnny algumas palavras "amigáveis" sobre a morte de vocalista, em 2001, vítima de câncer linfático. Mas as demonstrações de afeto páram por aí. GGGG1/2