Mesa em que Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli recitaram poemas de Fernando Pessoa| Foto: Walter Craveiro/Divulgação
Lila Azam Zanganeh: musa e best seller desta edição

A Festa Literária Interna­­cional de Paraty que acabou na noite do último domingo, 7, foi bastante diferente daquela que a organização tinha em mente duas semanas atrás.

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Foi uma festa de improvisos, com três baixas de última hora entre os convidados, a inclusão de mesas extras sobre os protestos no país, tema que se impôs nas semanas anteriores ao evento, e a integração física dos manifestos aos debates, com gritos de grupos locais invadindo a Tenda dos Autores no último dia da feira.

Se em outras edições a Flip já precisou correr para cobrir desistências com poucos dias de antecedência, desta vez ela precisou fazer isso inclusive no decorrer da festa.

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A novela envolvendo a participação do palestino Tamim Al-Barghouti, "o poeta da Revolução Árabe", começou no dia de abertura, quarta-feira, 3, quando um golpe militar no Egito levou ao cancelamento de voos saindo daquele país.

Após enfim conseguir embarcar no Cairo, na manhã de sexta-feira, Al-Barghouti perdeu o passaporte na escala em Londres. "Eu poderia ser perdoado se o obstáculo tivesse sido algo dramático, como um tanque na rua ou um tiroteio na rodovia, mas foi uma mente distraída", disse ele, pedindo desculpas, em carta à Flip.

Destaques

Mas as emendas deram bons resultados. Debates sobre protestos, escalados após a desistência do francês Michel Houellebecq, atraíram inclusive um público mais jovem, que participou ativamente com perguntas a T. J. Clark, Vladimir Safatle e André Lara Resende.

O mexicano Juan Pablo Villalobos, substituto do norueguês Karl Ove Knausgard, foi um dos melhores debatedores desta edição – confirmado um dia antes do evento, teve seu Festa no Covil entre os mais vendidos na livraria oficial da Flip, a Travessa.

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E o tão temido bloqueio na ponte de acesso à Tenda dos Autores, no sábado, não incomodou turistas – que, ao menos temporariamente, atentaram para temas ambientais e sociais que preocupam o povo local.

Nenhuma mesa causou mais comoção nesta edição que a de Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli recitando poemas de Fernando Pessoa. Bethânia deu à amiga espaço para brilhar, e dona Cleo, 96, levou o público pela mão. Poucas vezes na Flip se ouviram aplausos tão duradouros na Tenda dos Autores.

Sessenta anos mais nova, a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh arrebatou o auditório cantarolando o "faz­carigudum" do "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa. Virou a musa da Flip e a autora best seller desta edição, com 500 cópias de seu O Encantador vendidas em Paraty. Cleonice foi a segunda mais vendida.

Mas, no geral, a ausência de grandes estrelas literárias, somada a mesas sobre ficção que pouco repercutiram, como a de John Banville e Lydia Davis, fez desta uma das Flips menos literárias de todos os tempos. Isso deu espaço para nomes de outras áreas, como o arquiteto Eduardo Souto de Moura e o cineasta Eduardo Coutinho, protagonizarem alguns dos debates mais interessantes.

A Flip do improviso se fez notar até na mesa final, em que autores leem trechos de seus livros favoritos: a tradutora não recebeu antes o texto escolhido por Laurent Binet, e fez uma tradução livre do russo Vasily Grossman.

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Na entrevista de balanço, foi anunciado que a 12.ª edição da festa, no ano que vem, acontecerá em agosto, para não coincidir com a Copa do Mundo.