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Violões e voz embalam canções de espírito pacato e poético | Paulo Fridman
Violões e voz embalam canções de espírito pacato e poético| Foto: Paulo Fridman

Trajeto

Mineira de Itanhandu, Ceumar se aventura por São Paulo desde 1995, na patota de Luiz Tatit, Ná e Dante Ozzeti, José Miguel Wisnik e Gero Camilo, que tem dado novo ar à MPB paulista.

Um, dois, três

Estreou no mercado fonográfico independente com o festejado Dindinha, produzido por Zeca Baleiro, em 2000. Três anos mais tarde, lançou sempreviva!. 2005 marcou sua parceria com o compositor Dante Ozzetti no CD Achou.

Quatro

Nesse meio tempo, participou de coletâneas e shows em companhia de artistas como o pianista Mike Del Ferro, com quem costuma se apresentar na Holanda. Ele é o produtor do quarto disco, Meu Nome, no qual Ceumar investe em cancioneiro autoral.

  • Meu Nome: 20 composições próprias

Assim como a brisa ou o fogo da vela evocados na faixa de abertura ("Reinvento") de seu quarto disco, o canto de Ceumar é uma força natural suave, que alivia e aquece. Astutamente, Zuenir Ventura escreveu sobre a mineira, radicada em São Paulo desde 1995, que se manteve preservada "da contaminação dos modismos". "Um gosto de refresco que não levou aditivo químico."

Essa naturalidade simples e genuína, mais alegre do que triste, adubou sua primeira safra de composições próprias. Gravadas ao vivo, no Teatro Fecap, entre o fim de maio e início de junho passado, as canções saídas de sua mente, com eventuais parceiros como as paranaenses Estrela Leminski e Etel Frota, foram reunidas no disco Meu Nome. Longe dos autores em cujo repertório sua voz se equilibrou em um primeiro momento (sobretudo Zeca Baleiro e Dante Ozzetti), Ceumar se afirma talentosa no manejo de acordes e poesia, em generosas 20 faixas, a maior parte inédita.

Entre o que já se havia ouvido, "Gira dos Meninos" fora gravada por Rubi no belo disco Paisagem Humana, de 2006. A doce melodia já então se destacava naquele registro. Neste, presencia o encontro vocal de timbres feminino e masculino, em dueto com o coautor Sérgio Pererê, belo-horizontino que escreveu a letra (iniciada pelo verso "Deixa a madeira cheirosa queimar"...) depois que a cantora passou por um incêndio.

A limpidez da voz de Ceumar e as cordas de seus violões sustentam sozinhas a maioria das faixas. A exemplo de "Parque da Paz", relato endereçado a um amigo sobre a correria urbana, cuja sonoridade vai na contramão da pressa ou do barulho, em acompanhamento minimalista, com a intervenção de batidas de mãos, das imperfeições do coro da plateia e da respiração ofegante da cantora, descontraída, pontuando o fim com humor. E o público ri.

É das poucas que remetem mais a São Paulo. De resto, prepondera algo da vida pacata. "Oração do Anjo", outra gravada anteriormente por Rubi, e escrita com Mathilda Kóvak, se recobre de clima regionalista, comum ao longo do disco, num apelo maior. "Não permita Deus que eu morra(...)/ Sem tocar tudo que existe/ Não permita Deus que eu morra triste."

A imperfeição sonora faz parte da gramática assumida pela artista, assim como a gravação caseira e o tom pessoal de seu trabalho. Assim, personagens de suas relações próximas aparecem. A amiga sambista Fabiana Cozza é homenageada em "Samba pra Fabi". O disco como um todo, e especialmente "Mãe", são dedicados à Wilmar. A canção foi composta pela filha um dia antes da morte daquela que a ensinou a cantar. Traz a leveza sombria da distância imposta pela perda, do passado emoldurado.

Um desenho de um foguete envolvido por corações, feito pelo filho Tiê, inspirou "Planeta Coração", música redondinha, impregnada da loucura terna da infância, que Ceumar exalta cantando o oposto: "Cada vez que eu desanimo/ Eu envelheço um pouco". O espírito infantil toma conta também de "Mochilinha de Porquês", sua primeira parceria com o ator Gero Camilo.

Colorida apesar da faceta melancólica, "Nariz de Palhaço" exala a brasilidade do carnaval e do futebol. É uma de duas felizes parcerias com Tatá Fernandes; a outra é "Meu Mundo" ("Meu mundo só tem começo/ meus desejos não têm fim").

Em pequenas doses, o disco se serve de sambas puxados para o carnavalesco ou mesmo o funk, ou então inventa um bolero meio bossa ("Meio Bossa"), com falsos metais imitados pela vibração dos lábios, numa alquimia particular. O cancioneiro de Ceumar, assim como seu canto, é livre e impregnado de delicadezas. GGGG

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