Lançado há poucas semanas nos cinemas norte-americanos, a produção independente The King, do novato James Marsh, está chegando às locadoras brasileiras sem qualquer alarde. É uma pena se passar despercebida. Primeiro trabalho do astro mexicano Gael García Bernal (de Diários de Motocicleta) rodado nos Estados Unidos, o longa-metragem tem tudo para agradar ao público que gosta de filmes pequenos, intimistas e dolorosos.
Na contramão de Hollywood, The King conta a história de Elvis (Bernal), um jovem taciturno e misterioso que deixa a Marinha americana sem maiores explicações e toma o rumo da cidade de Corpus-Christi, no interior do Texas. Lá, ele tem uma missão, que aos poucos vai se revelando ao espectador.
Sabe-se, já nas primeiras seqüências, existir uma ligação entre Elvis e o reverendo David Sandow (William Hurt, indicado ao Oscar 2006 por Marcas da Violência), popular pastor de uma igreja pentecostal da localidade. No passado, Sandow teve um caso amoroso com Yolanda, a mãe prostituta de Elvis, e há forte possibilidade de o rapaz ser filho do líder religioso, que o rejeita já no primeiro encontro.
A reação negativa do pastor diante da chegada de Elvis serve como uma espécie de gatilho para que o ex-marinheiro detone um processo que terá conseqüências trágicas. O primeiro passo nessa direção: seduzir Malarie (Pell James), a inocente filha de Sandow, que vê no jovem a possibilidade de fugir um pouco da atmosfera opressiva de sua família evangélica. Ela não tem idéia de que ele pode ser seu meio-irmão.
Narrado de maneira sóbria, introspectiva e crua, The King toma cuidado para não fazer de Elvis um vilão convencional. Em princípio, inclusive, ele pode ser o herói justiceiro da trama. O filme tampouco coloca Sandow na posição de vítima passiva. Muito pelo contrário. O reverendo, graças à brilhante interpretação de William Hurt, é um personagem atormentado, que se divide entre sermões e caçadas de animais com seu arco e flexa. Sabe-se que ele carrega uma imensa culpa, fonte na qual sua fé fervorosa ironicamente bebe.
E Gabriel García Bernal? O astro de Amores Perros e Má Educação prova de novo ser o mais promissor ator latino de sua geração. Falando um inglês praticamente sem sotaque, ele empresta a Elvis, fruto indesejado de um relacionamento inadequado entre uma hispânica e um branco americano, uma complexidade desconcertante. Até o desfecho surpreendente e chocante da história, é muito difícil formular um julgamento a respeito das reais intenções do personagem e de seu caráter ou saúde mental. Já comparado pela crítica internacional a James Dean, Bernal é um ator intenso, sutil e com uma presença hipnótica na tela. Poucos na sua idade chegam tão longe.
A julgar por essa discreta, porém impactante estréia do ator no cinema made in USA, é justo apostar que ele não deva parar por aí. Mas, como já disse não ter a intenção de estrelar blockbusters sem conteúdo, seus fãs podem respirar aliviados. GGG1/2
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