O policial Mike Norton trabalha na fronteira dos EUA com o México e é casado com uma garota com quem faz sexo mecanicamente. Quando faz. Os dois vivem num trailer. Ele pode ser definido como o perdedor. Não importa o que aconteça, sua prepotência e estupidez são inabaláveis. Norton será sempre um perdedor.
Ou não.
Quando começam os créditos finais de Três Enterros, que chega às locadoras na próxima semana, é certo que Norton não é mais o mesmo e, talvez, você também não.
O título original diz Os Três Enterros de Melquiades Estrada. Este é um mexicano que larga a mulher e os filhos em uma cidadezinha minúscula do seu país para arranjar trabalho no Texas. Por sorte, encontra Pete Perkins, um fazendeiro americano que está se lixando para o que dizem as regras de imigração. Ele não afirma isso em palavras aliás, ele as usa muito pouco e quase nunca precisa delas. Prefere atitudes e silêncios que, como se sabe, podem ser formas muito contundentes de se dizer o que pensa.
Perkins contrata Estrada para trabalhar em sua fazenda e logo se tornam amigos. O momento zero da amizade acontece quando o mexicano dá ao americano o único bem que tem na vida: o cavalo. É como se abrisse mão das roupas do corpo ou mais. No seu modo de ver, é a única maneira de agradecer a confiança que recebeu.
Eles compartilham ambições, bebedeiras e mulheres. Em uma dessas ocasiões, Estrada faz para Perkins um daqueles pedidos precedidos de "se, um dia, eu morrer...". Ele deseja ser enterrado em sua cidade natal, onde ainda vive a família. Faz Perkins prometer que o fará. Perkins promete.
E Melquiades Estrada morre. Por meio de sua morte é possível costurar a história, até então fragmentada como foram os dois filmes anteriores do roteirista mexicano Guillermo Arriaga, Amores Brutos e 21 Gramas. O modo caótico de narrar, soltando pequenos fragmentos desconexos à primeira vista que se interligam à medida que o filme avança consegue multiplicar as expectativas e as surpresas do percurso. O tempo todo se espera que os personagens façam uma coisa, mas eles tomam atitudes inesperadas, ignorando clichês e tornando suas figuras mais humanas e, de certa forma, heróicas. Não no sentido de "super-herói", o que seria um paradoxo, e sim no de pessoas incríveis.
Perkins dá um jeito de cumprir a promessa que fez ao amigo e seu caminho cruza com o do policial Mike Norton, feito refém pelo vaueiro. Juntos, realizam a longa viagem de cavalo até a cidadezinha mexicana, carregando consigo o corpo de Estrada, que não resiste ao tempo e começa a apodrecer (no fato mais bizarro da história).
O cadáver acompanha os americanos como que para lembrá-los de um erro (cometido por Norton) e também de uma promessa (feita por Perkins). O embate entre esses dois significados leva a um desfecho arrebatador, quando a promessa resulta em um erro e vice-versa.
Três Enterros venceu os prêmios de roteiro e de ator no Festival de Cannes. O primeiro, para Arriaga. O segundo, para Tommy Lee Jones, perfeito como Pete Perkins. Esta foi ainda a estréia de Jones como diretor. É o que se chama de filmaço, daqueles que não te largam mais. GGGGG
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