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Encontro: o “eletrônico” Fernão Ciampa e o baixista Glauco Solter discutem conceitos | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Encontro: o “eletrônico” Fernão Ciampa e o baixista Glauco Solter discutem conceitos| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

Programação

Confira os destaques de hoje e amanhã da 27ª Oficina de Música de Curitiba

Hoje

Bosque do Papa. Música nos Parques. No País de Alice, com Rogéria Holtz, às 11 horas. Show Carreador, com Maurílio Ribeiro, às 14 horas. Show com Maxixe Machine, às 17 horas.

Teatro Londrina. Palestra sobre música étnica e Oficina da Folia com o Grupo Mundaréu. Das 12 às 14 horas.

Conservatório de Música Popular Brasileira. Abertura da Oficina de Música Popular Brasileira com a Orquestra à Base de Sopro. Direção musical de Sérgio Albach. Às 20h30.

Amanhã

Teatro Sesc da Esquina. Show com Cláudio Menandro – Bossa Nova 50 anos. No repertório, Tom Jobim, Gilberto Gil, Fernando Lobo, Geraldo Pereira, Dorival Caymmi e Ari Barroso. Às 19 horas.

Teatro da Reitoria. Vocal Brasileirão. Pré-lançamento do CD Invisível Cordão – Brasileirão canta Chico e Edu. Direção musical: Vicente Ribeiro. Às 21 horas.

No intervalo entre a oficina de música eletrônica, que acabou na última sexta-feira, e a de música popular brasileira, que tem início hoje, a Gazeta do Povo colocou frente a frente dois representantes de cada modalidade.

O paulista Fernão Ciampa, de 34 anos, faz parte do Coletivo Embolex – grupo que alia imagem à música eletrônica, enquanto o paranaense Glauco Solter, 39, é baixista e tem a música instrumental, o jazz e a MPB como principais referências.

Os dois promoveram uma conversa descontraída e recheada de ideias. Discutindo desde a impossibilidade de ignorar a tecnologia até a necessidade de expressar sentimento ao tocar, os dois chegaram a algumas conclusões: não há música sem pulso, sem vibração; e o funk carioca de hoje pode ser o samba de raiz de amanhã. A seguir trechos da conversa.

A música eletrônica para Glauco Solter – Raramente ouço. Me envolvo tanto com outras coisas que a música eletrônica acaba não tendo espaço. Priorizo outros estilos que são urgentes para mim, mas acredito que tenho mais abertura do que muitas pessoas que vêm da música instrumental, um pouco mais radicais nesse sentido. A MPB para Fernão

Fernão Ciampa – Eu gosto, mas não ouço tanto quanto gostaria. A MPB tradicional me incomoda muito porque ela não tem ruído. Para mim, é inaceitável uma música sem ruído.

G.S. – Ruídos seriam efeitos?

F.C. – Ruídos mesmo!

G.S – "Trshhhhhh", assim?

F.C – É que a vida está cheia de ruídos. A música que não os inclui acaba sendo idealista.

Material humano e definiçõesG.S. – Tenho interesse no que é material humano na música eletrônica. Acho que nada substitui o que corre nas veias. Uma blue note quer dizer alguma coisa e alguém cantando também. Isso é insubstituível.

F.C. – Há um problema inicial que é definir o que é música eletrônica. Porque atualmente tudo é eletrônico. A possibilidade de manipulação do som está presente em todos os estilos atualmente. O que vejo é que há um preconceito com a tecnologia. A premissa de que a tecnologia é inimiga do humano destrói a possibilidade de evolução de formatos.

G.S. – Realmente há esse preconceito. Atualmente, há uma bandeira de defesa da cultura brasileira: o fenômeno do "folclore universitário". Gente que nasceu em prédios em São Paulo e que quer tocar congada e música de raiz. A tecnologia na música deve ser deglutida por nós, virar parte da cultura nacional.

Vender o peixe

G.S. – Às vezes não conseguimos vender isso (a música). Essa é outra questão. O vínculo da arte com o resultado financeiro é algo que nos influencia muito. Você deixa de pesquisar ou ousar em certas coisas porque elas não vão ter retorno.

F.C. – Há diferentes formas de entender o que deu certo e o que não deu. O tecnobrega em Belém, por exemplo. A banda Calypso é a que mais vende disco no Brasil e não é de nenhuma gravadora. Você pode comprar o CD do show que acabou de assistir ali, na hora.

Nostalgia revista

F.C. – O funk carioca faz parte de uma cena absurda para qual os brasileiros não dão o menor valor. Eles produzem muito e não dependem de ninguém. E eu adoro música ruim. 90% do que eles fazem é porcaria, como em qualquer estilo, mas gosto mesmo do funk. A MPB também não era considerada boa música. Qual músico de academia que iria dizer que o samba era boa música? Era música ruim, como o funk "parece ser" hoje.

G.S. – A questão não é ser bom ou ruim. É se emocionou, se há beleza e energia. Estamos no meio de uma crise fonográfica e precisamos de uma mudança de expressão. Essa espontaneidade na produção pode demonstrar como será o mercado no futuro.

Na oficina

G.S.– O aluno está em uma situação privilegiada ao entrar em contato com todas essas tendências. É um momento intenso. As pessoas trocam informação a todo momento e há uma concentração enorme de ideias. A gente está ajudando as pessoas a crescerem.

F.C. – E não só os alunos, né. Gravamos uma menina tocando violino e utilizamos o sampler dela. Só aconteceu porque existe esse evento. É surpreendente. É uma semente que ainda não sabemos exatamente em que vai dar.

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