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"Sou o homem mais querido do Brasil." Não é muita gente que pode arriscar a frase. Humildemente, em seu jeito simples do interior, Tinoco arrisca, sem qualquer problema ou traço de arrogância. "Onde eu chego me beijam, me abraçam, cantam nossas músicas", diz ele, devagar, no ritmo de seus 84 anos. Os 85 ele completa ainda em novembro. "Todo mundo tem uma história para contar sobre o Tonico e o Tinoco", conta ele.

A entrevista, por telefone, é feita quarto do hotel onde o músico se hospeda em Curitiba. Faltando apenas um dia para o show que fará hoje à noite na cidade, Tinoco diz ainda nem saber o que vai tocar. Atualmente, é Tinoquinho, seu filho, quem decide onde e quando o pai se apresenta. "É bom, porque a gente toca tanto que faz bem não ter que se preocupar com isso", fala. Nem a banda que vai acompanhá-lo conhece. Não faz mal. Depois de 70 anos de carreira, completados em agosto deste ano, ele está bem seguro do que faz. "É só dar uma passadinha no repertório e fica tudo certo", comenta.

Ao lado de Tonico, morto em 1994, Tinoco fez sua primeira apresentação como profissional em 1935. Foi em Aparecidinha de São Manoel, no estado de São Paulo: "Cantei com o Tonico desde que me conheci por gente". Naquela época, música de raiz só fazia mesmo sucesso no interior. Mesmo lá, o violeiro conta que ninguém batia palmas no fim das músicas. Era feio. "Corriam lágrimas dos olhos com as toadas que a gente cantava, mas eles não aplaudiam", lembra. Bonito, por aquelas bandas, era andar com um revólver na cintura, que não era para atirar em ninguém, servia só para mostrar luxo. "O sujeito tinha 15 anos, ganhava uma arma do pai. Que nem hoje o pessoal carrega celular", compara.

Carreira

Em Curitiba, onde se apresentará ao lado do grupo Viola Quebrada, Tinoco deve cantar a canção que compôs em homenagem às sete décadas na música, que deve fazer parte do seu novo disco, já gravado, mas ainda por lançar. O refrão é uma homenagem a seu antigo parceiro, com quem fez dupla por 60 anos: "Canta Brasil, canta/ Setenta anos é muito pouco/Dupla coração do Brasil/Ainda é Tonico e Tinoco".

Depois de aparecer no interior do país na década de 40, Tonico e Tinoco se firmaram como uma das duplas sertanejas mais importantes do país. Emplacaram sucessos que tocavam em todas as rádios, como "Moreninha Linda" e "Tristeza do Jeca". Além das composições próprias, gravaram sucessos de outros compositores, como "Menino da Porteira". Levaram a música de raiz para as capitais e abriram caminho para gerações de duplas caipiras. Movimento que acabou transformando a música do interior em vedete nacional, anos mais tarde.

Hoje, há dez anos sem o parceiro, que morreu depois de bater a cabeça em uma queda, Tinoco continua viajando pelo país. Não pretende parar. "Acho que em 2020 eu paro de cantar e começo a ficar mais em casa, vou viajar com minha mulher", diz. Segundo ele, não há porque parar. A cada semana, mesmo tendo passado dos 80 anos, faz pelo menos três shows. Por onde passa, grava programas de rádio. E, agora, pretende começar um programa regular de tevê, que será transmitido de Medianeira, oeste do Paraná. Pela parabólica, o programa estará disponível em todo o mundo.

Viola Quebrada

O grupo que se apresenta hoje com Tinoco, o Viola Quebrada, está na ativa desde 1997, Formado no Paraná, o conjunto é composto por músicos de formações bem diferentes: há desde profissionais formados em música erudita até fãs de MPB. Todos decidiram se dedicar à música caipira brasileira. O conjunto já tem quatro discos gravados.

Serviço: Tinoco e Viola Quebrada. Teatro da Reitoria (R. XV de Novembro, 1.299), (41) 3360-5066. Hoje, às 21 horas. Ingressos a R$ 30, R$ 20 (antecipado) e R$ 15 (idosos e estudantes).

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