Uma mulher especialista em falar sobre crises pessoais

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Difícil saber quantas e quais analogias são possíveis fazer entre uma crise no casamento e as mais diversas questões do dia-a-dia. E divagar sobre crise é uma das especialidades da escritora Julie Powell.

No livro anterior, Julie & Julia, que deu origem ao filme homônimo, foi a crise dos 30. Agora, em Destrinchando, Julie fala sobre o fim de um tórrido romance clandestino de dois anos de duração dentro de um casamento mantido há mais de dez e todo o pacote de emoções, frustrações, expectativas e decepções – note-se, nada ­­­­­de muito positivo nesses se­­ntimentos – que a situação ­­­oferece.

Óbvio que o casamento da moça está na corda bamba. E escrever foi a ferramenta para domar os monstros que a atormentavam enquanto tomava decisões cruciais a respeito dos seus relacionamentos: romper, manter, insistir, desistir, escolher.

Curiosa é a forma que ela escolheu para lidar com tudo isso: decide ser açougueira. E, como aprendiz em um açougue no subúrbio de Nova York, vai tecendo metáforas entre o oficio e a confusão que toma conta da sua vida. Há descrições curiosas de como músculos bovinos tão intrinsecamente ligados podem ser separados com habilidade, tal como um casal harmonioso chega ao fim (ou o que pode ser o fim dele).

O período de aprendizado com cortes e linguiças é a parte mais enriquecedora para o leitor. Quando termina sua experiência e, ainda insatisfeita pessoalmente, Julie parte para viagens à Argentina, à Ucrânia e à Tanzânia. Repete-se uma receita comum em escritoras norte-americanas: viajar para resolver problemas. Ou esquecer. Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar, Amar (Objetiva), usou o mesmo expediente. Será que sempre dá certo?

Serviço

Destrinchando, uma História de Casamento, Carne e Obsessão, de Julie Powel. Record, 394 págs., R$ 52,90