A espera foi longa, mas valeu a pena. Pelo menos para as mais de 30 mil pessoas que compareceram à Chácara do Jockey, em São Paulo, no último domingo (22), quando a banda inglesa Radiohead hipnotizou a todos com um dos mais impressionantes espetáculos visuais e sonoros já apresentados até hoje no Brasil.
Nem tudo veio fácil. Horas de engarrafamentos até o local do show, filas para tudo (de bares a banheiros) e o pouco espaço disponível para tanta gente atrapalharam o que poderia ter sido uma noite perfeita. Mas Thom Yorke (vocais, guitarra e piano), Jonny Greenwood (guitarra, piano e sintetizadores), Ed OBrien (guitarra), Colin Greenwood (baixo e sintetizadores) e Phil Selway (bateria e percussão) deram o melhor de si e do repertório acumulado pela banda ao longo de duas décadas. Assim como o público que, mesmo tendo de lutar com unhas e dentes para conseguir enxergar ao menos o topo da cabeça de um dos integrantes (a aglomeração foi um grande obstáculo até aos mais altos), cantou em uníssono todas as canções e se calou nos momentos apropriados.
A batida eletrônica arranhada e suja de "15 Step", faixa de abertura do mais recente álbum da banda, In Rainbows (2007), deu início à apresentação do quinteto de Oxford. Sob a luz de milhares de leds coloridos e uma infinidade de câmeras posicionadas pelo palco as imagens captadas eram projetadas em um telão de resolução impressionante, atrás dos integrantes os músicos apresentaram 25 canções (incluindo as dez de In Rainbows) em alto e bom som: era possível ouvir os detalhes saídos de cada instrumento e a belíssima voz de Yorke soava limpa e perfeita.
Ao longo do show, diversos momentos arrancaram lágrimas até de marmanjos que vibravam a cada música como se estivessem torcendo por seu time do coração. O primeiro "gol" veio ao som de "Karma Police", em que ficou difícil ouvir as notas saídas da garganta de Yorke, sobrepostas pelos acordes desafinados da multidão, que arriscava até os mais agudos falsetes. O ápice da comoção (ou da goleada) deu-se durante o primeiro bis da banda (ao todo, eles voltaram ao palco três vezes), que incluiu a intensa "Paranoid Android" e a chorosa "Fake Plastic Trees".
Mas a multidão queria mais e não se contentaria em ir para casa sem ouvir o hino oficial do indie rock, "Creep", com a qual a banda havia encerrado as apresentações no México e no Rio de Janeiro, após anos sem tocá-la ao vivo. Após um certo suspense os integrantes passaram alguns minutos conversando no palco, como que discutindo qual seria a próxima canção o simpático Thom Yorke ainda fez piada: "Adivinha o que vamos tocar agora?", perguntou sorrindo, enquanto a banda dava início aos primeiros acordes da tão esperada canção.
Em clima de catarse coletiva, o Radiohead encerrou sua passagem pelo Brasil, deixando mais que satisfeita uma multidão há muito tempo ávida por conferir ao vivo a performance de uma grande banda em seu auge.