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Pharoah Sanders: durante o show, ele grita e fala na outra extremidade do instrumento | Divulgação/ Quentin LeBoucher
Pharoah Sanders: durante o show, ele grita e fala na outra extremidade do instrumento| Foto: Divulgação/ Quentin LeBoucher

O saxofonista Pharoah Sanders entrou no palco do Sesc Pinheiros, em São Paulo, com passos curtos e lentos. Na surpreendente noite de sábado, a lenda do jazz de 69 anos tocou com uma banda de apoio de cinco músicos, três americanos saídos do grupo Chicago Underground, mais dois brasileiros da banda Hurtmold.

Eram dois bateristas (Chad Taylor e Maurício Takara), um trompetista (Rob Mazurek), baixista (Matt Lux) e tecladista (Guilherme Granado, que também operou um sintetizador). A apresentação começou violenta, com um free jazz em que cada um corria para um lado e ninguém nunca se encontravam em parte alguma.

Não demorou nada para Sanders soltar a sua marca: com os olhos fechados e o saxofone um pouco erguido, fez o instrumento urrar. Uma, duas, três vezes. Então parou de tocar e se afastou do microfone para mostrar uma dança minimalista, tribal, do­­brando os joelhos no ritmo da música. Mesmo aparentando fragilidade ao se mover, fez a proeza de se agachar quase até o chão e se levantar sem a ajuda de ninguém.

Quase dez minutos se foram e ninguém sabia muito bem o que estava acontecendo. Passado o estranhamento do começo, o show pegou um embalo inusitado e o público teve a chance de ouvir algo que não existe em nenhum disco de Sanders: um jazz com sintetizadores e muito groove (ginga) que mistura elementos de rock, eletrônica e funk.

Vestindo uma bata branca que combinava com o cabelo e a barba, Sanders não tocou muito. Na maneira como as coisas aconteceram, era como se ele fosse o convidado especial num show do Chicago Underground (projeto encabeçado pelo trompetista Mazurek). O único problema disso foi a vontade de ouvir mais Sanders. No entanto, para compensar, a banda era incrível.

Não houve standards do jazz nem composições conhecidas de Sanders ou do saxofonista John Coltrane (cujas músicas povoam os discos do primeiro). A noite no Sesc Pinheiros foi mais como uma jam session inspirada. Parecia que os músicos haviam se encontrado ali mesmo, minutos antes, para tocar.

Num dos pontos altos da noite, os bateristas Taylor e Takara, junto com o baixista Lux, criaram uma base dançante, como num funk de James Brown, em que Sanders se insinuou vez ou outra.

Sozinho, Matt Lux já foi uma atração. O músico de cabelo e barba compridos, usava um terno azul-bebê e gingava com o baixo balançando o corpo primeiro para um lado, parando, depois para o outro, parando... Ele deve ter aprendido o passo com Neil Young.

Chad Taylor, o baterista, tinha um ritmo alucinante. Podia fazer um solo inteiro usando apenas o prato ou as laterais da caixa. Os brasileiros Takara e Granado também deixaram suas marcas. Dá até para dizer que era o sintetizador de Guilherme Granado que cimentava um bloco de música ao outro, fazendo da 1h30 de apresentação uma única, longa e ininterrupta composição.

É possível que a idade esteja interferindo no andamento das apresentações de Pharoah Sanders. Seus solos são tímidos de certa forma e, ao fim, mesmo com o público de pé aplaudindo por vários minutos, ele não fez bis. Apenas voltou ao palco com os outros músicos para agradecer a acolhida.

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