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O horário de votação será das 8 às 17 horas, no próximo domingo (7) | Elza Fiúza/ABr
O horário de votação será das 8 às 17 horas, no próximo domingo (7)| Foto: Elza Fiúza/ABr

"La Noche de Enfrente", do cineasta chileno Raoul Ruiz, morto em agosto do ano passado, foi exibido ontem numa sessão prévia para a imprensa, que antecedeu à noite de gala na 50ª edição do Festival de Cinema de Nova York.

Como já havia acontecido em Cannes – onde foi lançado na Quinzena dos Realizadores – aqui também o último trabalho realizado pelo consagrado diretor chileno levou muitos espectadores às lágrimas.

O filme segue Dom Celso Barra (Sérgio Hernández), que está se aposentando e começa a relembrar suas memórias reais e imaginárias. A história se desenvolve desde o norte, onde Dom Celso se torna amigo do escritor francês Jean Giono, até Villa Alemana (lugares onde Ruiz viveu na infância), com referências ao governo de Carlos Ibáñez e a artistas como Beethoven, que aparece no filme como um espírito encarnado.

Já bastante doente e certamente pressentindo que provavelmente seria a última vez que dirigiria um filme, Ruiz traz, de fato, uma história com tons de despedida aliados a visíveis recordações de sua vida.

Filmado entre abril e maio de 2011, Ruiz foi ajudado por Valeria Sarmiento, sua mulher e constante colaboradora na montagem de muitos dos seus filmes.

A trilha sonora é ótima, com uma extraordinária partitura de Jorge Arriagada (parceiro constante de Ruiz desde 1977, em 46 filmes) e versões antigas de muitos tangos e boleros que foram sucesso no passado.

Os planos-sequência são magníficos e tão elaborados que a câmera se move como se estivesse à espreita dos atores com a sutileza de um maestro. E a cena final causa uma grande comoção, quando, após a subida dos créditos e terminada a canção que os acompanha, se ouve a voz de Ruiz dizendo: "Corta". A ideia foi de Sarmiento que optou por, após o término da sequência sonora, inserir essa palavra para ser pronunciada na voz do diretor.

Ao final da projeção houve uma entrevista coletiva com o produtor François Margolin, que falou sobre o filme e de sua parceria de longos anos com Ruiz.

"Eu não tinha com ele apenas um relacionamento de produtor e diretor. Era muito mais que isso, nós éramos grandes amigos e eu poderia dizer que, para mim, Raoul era como um pai", disse o produtor, muito emocionado, acrescentando que, no início das filmagens, Ruiz estava relativamente bem, mas, ao final, teve a certeza de que ele sabia que seu fim estava próximo.

"Como um de seus grandes filmes, 'Three Lives and Only One Death' [1996], com Marcelo Mastroianni, acho que assim também aconteceu com Raoul: ele teve uma vida no Chile, de onde saiu para se exilar após o golpe de Pinochet; teve outra na França por quase trinta e seis anos; e teve uma terceira vida após o transplante de um mal que, na ocasião, certamente o teria levado mais cedo", disse Margolin, ressaltando que o filme é o testamento de um diretor genial que não acreditava na morte.

"Para ele, a morte era apenas um sono mais longo", concluiu.

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