"La Noche de Enfrente", do cineasta chileno Raoul Ruiz, morto em agosto do ano passado, foi exibido ontem numa sessão prévia para a imprensa, que antecedeu à noite de gala na 50ª edição do Festival de Cinema de Nova York.
Como já havia acontecido em Cannes onde foi lançado na Quinzena dos Realizadores aqui também o último trabalho realizado pelo consagrado diretor chileno levou muitos espectadores às lágrimas.
O filme segue Dom Celso Barra (Sérgio Hernández), que está se aposentando e começa a relembrar suas memórias reais e imaginárias. A história se desenvolve desde o norte, onde Dom Celso se torna amigo do escritor francês Jean Giono, até Villa Alemana (lugares onde Ruiz viveu na infância), com referências ao governo de Carlos Ibáñez e a artistas como Beethoven, que aparece no filme como um espírito encarnado.
Já bastante doente e certamente pressentindo que provavelmente seria a última vez que dirigiria um filme, Ruiz traz, de fato, uma história com tons de despedida aliados a visíveis recordações de sua vida.
Filmado entre abril e maio de 2011, Ruiz foi ajudado por Valeria Sarmiento, sua mulher e constante colaboradora na montagem de muitos dos seus filmes.
A trilha sonora é ótima, com uma extraordinária partitura de Jorge Arriagada (parceiro constante de Ruiz desde 1977, em 46 filmes) e versões antigas de muitos tangos e boleros que foram sucesso no passado.
Os planos-sequência são magníficos e tão elaborados que a câmera se move como se estivesse à espreita dos atores com a sutileza de um maestro. E a cena final causa uma grande comoção, quando, após a subida dos créditos e terminada a canção que os acompanha, se ouve a voz de Ruiz dizendo: "Corta". A ideia foi de Sarmiento que optou por, após o término da sequência sonora, inserir essa palavra para ser pronunciada na voz do diretor.
Ao final da projeção houve uma entrevista coletiva com o produtor François Margolin, que falou sobre o filme e de sua parceria de longos anos com Ruiz.
"Eu não tinha com ele apenas um relacionamento de produtor e diretor. Era muito mais que isso, nós éramos grandes amigos e eu poderia dizer que, para mim, Raoul era como um pai", disse o produtor, muito emocionado, acrescentando que, no início das filmagens, Ruiz estava relativamente bem, mas, ao final, teve a certeza de que ele sabia que seu fim estava próximo.
"Como um de seus grandes filmes, 'Three Lives and Only One Death' [1996], com Marcelo Mastroianni, acho que assim também aconteceu com Raoul: ele teve uma vida no Chile, de onde saiu para se exilar após o golpe de Pinochet; teve outra na França por quase trinta e seis anos; e teve uma terceira vida após o transplante de um mal que, na ocasião, certamente o teria levado mais cedo", disse Margolin, ressaltando que o filme é o testamento de um diretor genial que não acreditava na morte.
"Para ele, a morte era apenas um sono mais longo", concluiu.
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