Mark Millar diz que alguns dos seus maiores sucessos como quadrinista viram das suas ideias mais simples.
Ao criar “Kick-Ass”, Millar se perguntou como seria se uma criança fã de quadrinhos decidisse botar uma máscara para sair por aí tentando combater o crime.
Para o seu mais novo quadrinho, “Reborn”, publicada pela Image Comics/Millarworld, Millar faz a pergunta milenar: “Para onde vamos após a morte?”
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“É uma daquelas coisas universais que, não importa qual a sua fé, mesmo que você não tenha fé, e também não importa em que país você vive, em algum ponto, lá no fundo da sua cabeça, você fica, tipo, para onde vamos?” disse Millar ao The Washington Post por telefone, direto de sua casa na Escócia. “Me pareceu divertido bolar uma resposta”.
“Reborn” começa com a morte da protagonista. Bonnie Black é uma senhorinha de idade que viveu uma vida plena. Quase todos os seus entes mais queridos já morreram, e o ponto alto dos últimos dias de sua vida é receber as visitas da sua neta na casa de repouso. Ela sabe que não tem muito tempo ainda de vida, mas não quer aceitar que ela logo poderá morrer num lugar que não é a sua casa.
Assim que Bonnie dá o seu último suspiro, começa uma nova aventura. Ao despertar, ela se vê numa versão muito mais jovem do seu corpo, vestindo um traje de combate futurista e equipada com uma capa, capacete e uma espada, no meio de uma longa guerra entre seres e humanos e monstros míticos, no que parece ser um outro mundo.
Ilustrador superstar
Como ilustrador para sua nova aventura, Millar procurou o superstar dos quadrinhos Greg Capullo, conhecido recentemente pelo período de cinco anos que passou desenhando o “Batman”, com roteiro de Scott Snyder, para a DC Comics.
“O Greg é um daqueles caras, aqueles artistas que estão no topo da lista de todo mundo. Ele e Scott são responsáveis pelo que é provavelmente o meu período favorito da DC dos últimos 20 anos, provavelmente desde ‘O Reino do Amanhã’”, comentou Millar sobre o “Batman” de Capullo e disse ao artista que, assim que ele tivesse tempo, gostaria de poder trabalhar com ele. Sendo um fã, eu meio que não queria que o seu “Batman” acabasse. Por outro lado, a minha cabeça só pensava, “Não seria maravilhoso trabalhar com Greg Capullo?”
Capullo concordou tranquilamente com a colaboração, conhecendo já o talento de Millar em criar mundos inteiros de quadrinhos capazes de chegar às telonas (como “O Procurado”, “Kick-Ass: Quebrando Tudo”, “Kick-Ass 2”, “Kingsman: Serviço Secreto”).
“Eu nem me preocupei em perguntar sobre o que era a história antes de concordar com a parceria”, brincou Capullo.
Para ilustrar “Batman”, Capullo precisava aderir a desenhos e esquemas de cor pré-aprovados, enquanto com “Reborn”, ele e Millar tiveram toda a autoridade para tomar as decisões no tocante à arte.
“Há muita alegria em poder criar seu próprio universo. Ele é seu”, disse Capullo. “Ninguém pode dizer se ele está certo ou errado, só se gostam dele ou não. É como ser criança. Sabe, você tem lá o papel, o giz de cera e a sua imaginação. Não tem como não amar”.
Adaptação para o cinema
Millar diz que “Reborn” será uma história de 18 edições, divididas em três volumes de seis edições cada. Ele já vendeu os direitos de “Reborn” para um estúdio de cinema, mas diz que não pode revelar o nome do estúdio ainda, porque é provável que eles queiram fazer o anúncio oficial depois de já terem o contrato com a atriz que irá fazer o papel principal de Bonnie Black. “Reborn” terá uma adaptação na forma de um romance para jovens, seis meses após a conclusão da série, e também um jogo de tabuleiro – ambas as coisas sendo novidade dentre as propriedades da Millarworld.
Com o que parecem ser tantos produtores de cinema fazendo fila para adaptarem suas ideias, Millar diz que recusa mais ofertas de Hollywood do que aceita, afirmando que ele não é “um daqueles caras que se leiloam”.
Ele lembra, por exemplo, da vez que estava vendendo os direitos da sua graphic novel “American Jesus”, sobre um menino de 12 anos que descobre ser Jesus Cristo retornado – um produtor figurão lhe disse que foi uma das melhores coisas que ele já leu na vida e que queria fazer um filme. Mas tinha só um probleminha, segundo o produtor: “Será que dava para tirarmos Jesus da história?”
Millar dá uma risada histérica enquanto conta a anedota.
“Em situações que nem essa... se eu fosse ganancioso, eu podia ficar, tipo, ‘Beleza, cadê o cheque?’”, ele disse. “Mas sempre tive a sensação de que eu queria poder olhar a minha prateleira e sentir orgulho ao ver meus livros e DVDs. Quero que a minha página no IMDb seja bacana”.
Millar diz que, quando era novo, enquanto muitas das crianças faziam filmes em Super-8mm, ele dobrava folhas de papel e desenhava quadrinhos nelas. Ele provavelmente poderia ter abandonado os quadrinhos já em 2006 e desde então só escrito roteiros, por conta dos contatos que fez, com tantas de suas histórias tendo sido adaptadas para o cinema, mas ele diz que não estaria sendo verdadeiro consigo mesmo se seguisse um caminho desses.
“Esse não sou eu”, disse Millar. “Meu negócio é quadrinhos”.
* David Betancourt escreve sobre todos os aspectos da cultura de quadrinhos para o blog Comic Riffs do Washington Post.
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