O curta-metragem La Rose retrata a solidão vivenciada por idosos na França contemporânea. A inspiração surgiu de uma conversa da diretora com uma idosa em um ponto de ônibus| Foto: Divulgação

Em cartaz

Confira os oitocurtas-metragens selecionados pelo Banlieuz’Art e o longas da mostra competitiva de Cannes 2011:

Ascension, de Vincent Monceau

C’est Notre Cinéma, de Julien Colona

Ensemble, de Mohamed Fekrane

La Rose, de Tiara Félix

Macadam Transfert, de Aurélia Mangin

Roving Analysis, de Addam

Soleil Noir, de Sarah Laure Estragnat

Ter Ter, de Fabien Carrabin e David Lucchini

Seleção Oficial

La Piel Que Habito, de Pedro Almodóvar

L’Apollonide – Souvenirs de la Maison Close, de Bertrand Bonell

Pater, de Alain Cavalier

Hearat Shulayim, de Joseph Cedar

Bir Zamanlar Anadolu’da, de Nuri Bilge Ceylan

Le Gamin au Vélo, de Jean-Pierre e Luc Dardenne

Le Havre, de Aki Kaurismäki

Hanezu No Tsuki, de Naomi Kawase

Sleeping Beauty, de Julia Leigh

Polisse, de Maïwenn

The Tree of Life, de Terrence Malick

La Source des Femmes, de Radu Mihaileanu

Ichimei, de Takashi Miike

Habemus Papam, de Nanni Moretti

We Need to Talk about Kevin, de Lynne Ramsay

Michael, de Markus Schleinzer

This Must Be the Place, de Paolo Sorrentino

Melancholia, de Lars Von Trier

Drive, de Nicolas Winding Refn

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MARINGÁ - Quando recebeu o e-mail informando que o seu curta-metragem tinha sido selecionado para o Festival de Cannes, a paranaense Tiara Curi Félix, 27 anos, teve uma reação ligeiramente patética. "Fiquei procurando a câmera, para ver se era uma pegadinha", contou à Gazeta do Povo, pela internet, de Saint-Étienne, uma pequena cidade a 60 quilômetros de Lyon, no leste da França, onde mora há nove meses com o marido.

O comunicado chegou no dia 13 de abril, a pouco menos de um mês do Festival de Cannes, que ocorrerá de 11 a 22 de maio, com júri presidido pelo ator norte-americano Robert De Niro.

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Passada a euforia inicial, que incluiu uma noite de insônia, Tiara espalhou a boa nova aos familiares e amigos, muitos deles moradores de Maringá, Matinhos e Curitiba – na cidade-natal, Paranavaí, ela não tem mais conhecidos.

O nome do filme é La Rose" – "A Rosa, em português. O curta, de quase 14 minutos, foi filmado em 2010, no último ano do curso de Cinema que Tiara fez em Paris, na École Internationale de Création et Réalisation Audiovisuelle (Eicar). Depois de pronto, ela o enviou para o concurso de jovens cineastas promovido pelo Banlieuz’Art. O trabalho foi um dos oito selecionados para ser exibido, no dia 20 de maio, no Festival de Cannes.

Além de Tiara, o Brasil será re­­presentado pela dupla Juliana Rojas e Marco Dutra (com o longa Trabalhar Cansa), Karim Aïnouz (O Abismo Prateado) e Ana Furtado (com o curta Duelo Antes da Noite), ne­­­nhum na Seleção Oficial – na qual os filmes concorrem ao prêmio principal, a Palma de Ouro. Mesmo assim, eles vão dividir as telas com Pedro Almodóvar (La Piel Que Habito), Woody Allen (Midnight In Paris) e Lars Von Trier (Melancholia).

Velhice

La Rose é protagonizado pelos atores franceses Maryvonne Schiltz e Jean-Pierre Moulin. A primeira tem uma longa carreira na televisão e o segundo atuou em filmes de cineastas consagrados, a exemplo de Jacques Doillon (L’An 01, de 1973), François Truffaut (O Quarto Verde, de 1978) e Cédric Klapisch (Paris, de 2008), além de ter dublado o personagem Dupond da animação Tintim na versão francesa.

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Os atores vestem a pele de Mathilde e Jacques, dois viúvos à beira dos 70 anos, que se conhecem em um parque na França. Como raramente recebe visitas, a primeira inventa que se casará com o novo amigo, para forçar os filhos a lhe fazerem companhia em um jantar, como nos velhos tempos. O argumento, trabalhado com delicadeza no roteiro, também assinado por Tiara, revela a realidade dos idosos que vivem praticamente abandonados.

A ideia para o roteiro veio de uma conversa despretensiosa em um ponto de ônibus na capital francesa. "Uma velhinha começou a puxar papo comigo e, então, percebi o quanto ela se sentia sozinha", lembrou Tiara. "O simples fato de eu ter sido um pouco simpática e ter aberto espaço fez com que um enorme diálogo se criasse entre nós, atraindo até outros velhinhos que estavam no local."

O orçamento de La Rose foi de menos de 10 mil euros – parte financiado por Tiara e outra parte, pela Eicar. Toda a equipe de produção foi voluntária no projeto, classificado como independente. No total, foi um mês de preparação, cinco dias de filmagem e quase oito meses de edição – um longo tempo de trabalho duro que levarão uma paranaense a um dos mais importantes festivais de cinema do mundo.

Curitiba

A cineasta Tiara Curi Félix, 27 anos, viveu a maior parte da vida no Paraná. Ela nasceu em Paranavaí, no noroeste do estado, mas se mudou para Curitiba aos três meses de idade. Foi durante a adolescência na capital que ela começou a desenvolver sua veia artística. "Como era muito tímida, comecei a fazer teatro e peguei gosto pela coisa", contou.

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Ela estudou na Academia de Artes Cênicas Cena Hum, em Curitiba, dos 14 aos 17 anos. Depois disso, foi embora para São Paulo, já propensa a seguir carreira artística. Lá, continuou com os estudos cênicos no Teatro Escola Macunaíma, até ir para Paris, aos 24 anos, para estudar direção de cinema na École Internationale de Création et Réalisation Audiovisuelle (Eicar).

A mudança do teatro para o cinema se deve ao fato de que, enquanto estudava para os palcos, Tiara participou de curtas e de longas-metragens, tanto na produção como na figuração. O curso parisiense terminou em 2010, no mesmo ano em que ela se casou. Atualmente, mora em Saint-Étienne, onde trabalha na produtora de documentários DDM et Les Films Pour Demain.

Durante o curso na Eicar, Tiara participou dos concursos anuais que elegem o melhor entre os roteiros escritos pelos alunos para produção em película 35 mm. Ela venceu por duas vezes. A primeira foi em 2009, com o filme Esprit Volé (Espírito Roubado); e a segunda, em 2010, com La Rose, que será exibido no Festival de Cannes, por ser um dos oito selecionados pelo Banlieuz’Art.

Diretores favoritos? Tiara tem dois: o servo Emir Kusturica e o espanhol Pedro Almodóvar. Entre os dois, a paranense parece pender em favor do primeiro, que vai presidir o júri da mostra paralela Un Certain Regard. "Kusturica é um gênio", disse. "Ele mistura loucura e alegria com poesia, em filmes que são, ao mesmo tempo, militantes e sensíveis."