CD
Três Tons de Jorge Mautner. Universal Music. R$ 59,90. MPB.
Pra Iluminar a Cidade (1972), Jorge Mautner (1974) e Mil e Uma Noites de Bagdá (1976), os três primeiros álbuns de Jorge Mautner, estão de volta às lojas, reunidos na coleção Três Tons.
Em edições remasterizadas e com arte gráfica original dos LPs, a sequência inclui algumas das canções mais importantes do artista, que já tinha músicas gravadas no fim da década de 1950 e trazia um prêmio Jabuti no currículo de escritor desde 1962 (Deus da Chuva e da Morte).
O disco de estreia, um registro ao vivo bastante simples, com arranjos e participação de Nelson Jacobina, já apresenta o universo autêntico de Mautner, marcado pela liberdade criativa. O repertório inclui uma versão cortada de "Olhar Bestial", feita em 1958, e "Quero Ser Locomotiva", seu primeiro sucesso um dos exemplos da divertida poesia de Mautner, que canta imitando trem, gato, vampiro, serpente dágua, telefone de plástico, tevê, chiclete, carro de praça e "riso de amor".
A gravação foi feita em abril de 1972, no Teatro Opinião, e lançada pelo selo Pirata, da antiga Phonogram, criado para lançar títulos baratos. "É um disco que adoro", conta Mautner. "Os músicos eram amadores e geniais. Ele reflete todo o clima da época", diz o artista, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo.
Jorge Mautner, lançado dois anos depois, traz um registro totalmente diferente. Direção e produção são assinadas por Gilberto Gil. Os arranjos são mais elaborados e foram gravados com melhores recursos e esmero técnico.
O disco reúne a maioria das canções de Mautner que ficaram conhecidas ou que foram regravadas por outros intérpretes, como "Maracatu Atômico" gravada por Gil na mesma época, e conhecida na versão de Chico Science e Nação Zumbi em 1996.
Na esteira de canções bem-sucedidas, Mautner topou um projeto de "disco para tocar no rádio" dois anos depois. Mil e Uma Noites de Bagdá soa bem diferente dos anteriores. É o único álbum de Mautner cujos arranjos não são assinados por Nelson Jacobina: o trabalho ficou por conta de Perinho Albuquerque, que tinha a missão de fazer Mautner soar radiofônico. "Não deu certo no sentido que [a gravadora] queria", conta Mautner. "Eu achava que a arte era para transformar o mundo, não tinha essa visão da competição entre artistas. Isso desviava do sentido do trabalho que permeou minha obra", conta Mautner, que diz reconhecer nestes primeiros trabalhos a mensagem utópica sobre o Brasil que defende hoje. "A minha obra literária, ação pessoal e militância têm a ver com tudo o que já fiz antes", diz.
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