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Sempre que um novo trabalho seu é anunciado, multidões se mobilizam e aguardam ansiosas. Inglês e escritor, ele completa 50 anos em 2007 e pode se gabar de ser um ídolo pop que poderia, com alguma liberdade interpretativa, ser colocado ao lado de outros britânicos badalados como o jogador David Beckham e os cantores James Blunt e Robbie Williams. A essa altura, não é segredo que se trata de Nick Hornby, autor de Uma Longa Queda (Tradução de Antônio E. de Moura Filho. Rocco, 304 págs., R$ 38).

Quatro personagens diferentes se revezam na narração da história a partir do momento que se encontram no topo do edifício Toppers’ House. É noite de ano novo – certas referências indicam ser o final de 2003 ou de 2004, não dá para saber com certeza. O quarteto se reúne por acaso, mas com uma idéia em comum: a de se atirar do prédio famoso por ser o lugar de onde os suicidas costumam saltar. É claro que instalaram uma cerca de arame para evitar que desesperados colocassem um fim em suas vidas logo ali, mas Martin, um apresentador de tevê decadente, levou consigo uma escada e um alicate.

O ponto de partida não é lá muito verossímil – uma das críticas feitas ao livro –, mas o livro todo parece envolvido por uma atmosfera nonsense. Além de Martin, há a adolescente histérica e imbecil Jess, a mãe de um garoto inválido Maureen e o músico americano e desempregado J. J.

Aqui vale um comentário: duas obras importantes de Hornby, Alta Fidelidade e Febre de Bola, no cinema, foram adaptadas ao paladar americano. Por exemplo: saiu o time de futebol do Arsenal para a entrada do Boston Red Sox, de beisebol. Agora, Hornby poupa trabalho aos estúdios de Hollywood e cria um personagem americano com que o público dos EUA pode se identificar.

Uma Longa Queda deve virar filme logo – os direitos de adaptação foram comprados pelo ator Johnny Depp antes que o livro fosse lançado. Com pelo menos 70% de diálogos, a narrativa é quase um roteiro acabado. Bem ao estilo de Hornby. Rápida, com poucas descrições e pontuada por referências à indústria cultural, a prosa do escritor continua cinematográfica.

A proposta de dar voz a quatro suicidas pode sugerir que o autor quer discutir os sentidos da vida e da morte, e qual o papel das pessoas no mundo... Nada disso. Os protagonistas são típicos personagens de Hornby – é como se o elenco de uma sitcom (comédia de situação) decidisse se matar no réveillon. Existem alguns traços mais ou menos tristes e trágicos – caso de Maureen, sufocada pela obrigação de cuidar do filho que vive em estado vegetativo desde o nascimento.

Os quatro suicidas decidem esperar seis semanas até o dia dos namorados para ver se ainda gostariam de morrer. Começa a sucessão de absurdos: Jess vai aos tablóides ingleses e conta a história da noite de ano novo, acrescentando o detalhe que eles só não se mataram porque um anjo os convenceu do contrário. Na condição de ex-celebridade, Martin ainda consegue atrair atenção da mídia que, enfim, adora uma derrocada. A imprensa inglesa paga para ouvir o que eles têm a dizer sobre a experiência de quase-morte.

Curiosas são as críticas ao presidente George W. Bush e ao primeiro-ministro britânico Tony Blair que o escritor encaixa na voz de seus personagens, dizendo que ambos são "pessoas estúpidas". Ao longo da narrativa, faz censuras também à Al Qaeda (traduzida como "Al Qaida") e à guerra do Iraque. Nunca Hornby foi tão politicamente direto.

Embora divertido e pouco profundo, o "filme mental" que se cria ao ler Uma Longa Queda é capaz de lançar luz sobre ao menos um tema caro ao autor: os relacionamentos. Enfadado pela companhia dos seus novos "amigos", a certa altura, o inescrupuloso Martin pensa: "muito embora Jess tivesse me irritado bastante e Maureen tivesse me deprimido, elas preenchiam uma parte de mim que jamais deveria ser deixada desocupada e vazia". Assim são as relações, uma razão para viver que às vezes irrita e deprime.

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