O curitibano Artur Ratton: missão de desenterrar pérolas esquecidas do rock nacional| Foto: Divulgação
Joel Stones, na Tropicalia in Furs, loja de discos raros que abriu há oito anos em Nova York

Saquarema, Rio de Janeiro: este é o primeiro destino da expedição que o dono de loja de discos Joel Stones e o cineasta curitibano Artur Ratton, ambos radicados em Nova York, devem iniciar em janeiro de 2012. Missão: nada de desenterrar algum artefato histórico ou descobrir culturas exóticas. Trata-se apenas de uma visita ao roqueiro Serguei em sua casa, o Templo do Rock.

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Stones é chamado de "arqueólogo", Ratton se inspira no cinema etnográfico clássico e Serguei pode até ser considerado, de certa forma, histórico ou até mesmo exótico. Mas, no filme Brazilian Guitar Fuzz Bananas, ainda em fase de produção, o músico é apenas um dos personagens da "viagem artística" que a dupla de brasileiros pretende fazer pelo país para explorar o rock psicodélico brasileiro dos anos 1960 e 1970.

O ponto de partida é a coletânea, homônima, lançada por Stones em 2010 – fruto de uma intensa pesquisa musical ligada à loja Tropicália in Furs, que ele abriu há oito anos em Nova York. O empreendimento é um daqueles clássicos registros de sucesso: Stones saiu de São Paulo em 1999 com menos de US$ 200 no bolso, levantou a loja do zero e hoje recebe clientes ilustres, como o hobbit Elijah Wood. Entre as raridades à venda por lá, estão singles de sete polegadas que o "arqueólogo", também DJ e produtor, juntou na compilação.

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O LP teve sucesso de público e crítica e chegou a ser mencionado na imprensa brasileira, mas não foi lançado neste hemisfério. Ele servirá como "mapa" da viagem que, além do encontro com Serguei – "o Iggy Pop brasileiro" –, prevê visitas a personalidades como Marisa Rossi e Erasmo Carlos, no Rio de Janeiro, e Tony Tornado e Lanny Gordin – "o guitar hero da Tropicália" –, em São Paulo. "Queremos explorar a música psicodélica e nos reconectar com uma parte da música brasileira que ficou para trás, para que as pessoas olhem para o Brasil e vejam que aqui também tinha uma revolução acontecendo além do tropicalismo", diz o cineasta, que começou a trabalhar na área há cerca 15 anos, em Curitiba, principalmente com publicidade e clipes de bandas locais. Ratton conheceu Stones quando foi cinematógrafo do documentário Beyond Ipanema, de 2009.

Arrecadação

Stones e Ratton estão em campanha para obter US$ 25 mil para dar início à viagem em uma plataforma de crowdfunding (instrumento de arrecadação de recursos pela internet). As doações a partir de US$ 10 recebem contrapartidas (um link para baixar uma mixtape selecionada por Stones) – com US$ 1 mil, o investidor vira produtor executivo do filme e ganha uma tarde exclusiva na Tropicalia in Furs, e com US$ 5 mil, além dos benefícios anteriores, o parceiro poderá receber uma discotecagem de Stones em qualquer evento particular. O término do projeto está previsto para um ano depois do fechamento da arrecadação, que ocorre até 15 de novembro. A dupla também está em contato com outros investidores.

O produto final não será um filme de entrevistas, como se poderia presumir – tendo em vista o costume de recorrer a alguns nomes manjados em filmes com esta temática, como o quase obrigatório Nelson Motta. Grande parte do projeto não será roteirizada, e a equipe estará pronta para captar momentos inesperados.

O audiovisual será, ele próprio, psicodélico, de acordo com Ratton. O cineasta diz que busca um resultado "o mais original possível". Para isso, utilizará recursos como animações e reconstituições de histórias curiosas que estão por trás das faixas da coletânea. Entre as inspirações estéticas, estão, por exemplo, a videoarte, o cinema experimental, vídeos musicais do francês Vincent Moon (do projeto Blogothéque), capas de discos e até o cinema turco – não pela obscuridade, mas por ter peculiaridades que compartilham do contexto que deu origem à música retratada na coletânea e no filme.

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"Temos olhado muito para isso", diz Ratton. "É a coisa do terceiro mundo tentando ser primeiro. Você tenta esconder sua precariedade almejando o que não é, e, sem perceber, acaba usando suas raízes culturais. No Brazilian Guitar Fuzz Bananas, são brasileiros tentando ser bandas de rock-and-roll – mas sem conseguir, porque não tinham instrumentos ou ambiente para isso. E inventaram coisas mais originais ainda, sem perceber."

Assista aos teasers do projeto:

The Mixtape has landed!Plege $10 today!! from Artur Ratton on Vimeo.

Brazilian Fuzz Bananas-The Movie's Kickstarter video from Artur Ratton on Vimeo.

Interatividade

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Você conhece boas bandas brasileiras dos anos 1960 e 1970 que acabaram caindo no esquecimento?

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