Uma vaca está na esquina entre a rua Marechal Deodoro e a alameda Dr. Muricy, no centro de Curitiba. Sua posição é estratégica. Em frente à faixa de pedestres, poucos motoristas e passantes conseguem não desviar o olhar para a réplica colorida do mamífero. Muitos gostam de tatear o "animal" fabricado em fibra de vidro, como aconteceu com quatro crianças irrequietas que brincavam de extrair o leite das proeminentes tetas do animal. Alguns foram mais longe, como um casal que deixou seus nomes escritos com tinta no tronco do bicho.
Assim, outras 29 vacas têm despertado a atenção dos curitibanos desde a terça-feira passada, quando foi inagurada a mostra Cow Parade. Alguns transeuntes olham para as obras com atenção redobrada. A estudante Dayana Teixeira, de 21 anos, observou, rodeou e até se agachou para enxergar melhor os elementos coloridos da "Pessânvaca" (instalada na Pça. Zacarias) e ler a pichação, a etiqueta de identificação e o mapa que mostra a posição de outras vacas na cidade. Não achou esse o melhor dos exemplares, no entanto: "Parece ter algo de espanhol. A da Praça Tiradentes, do bondinho, é mais divertida", avalia. Ana Thaís Couto, de 21 anos, que também reparava na criação, discorda: "Eu a achei muito divertida. Parece uma vaca africana".
A vaca, no entanto, não é nem espanhola, nem africana. Seu nome, "Pessânvaca", um neologismo como quase toda vaca da Cow Parade, se refere à pessanka, os ovos crus pintados, comuns entre os cristãos dos países europeus eslavos. A autora, Alissa Zelazowski, procurou aplicar à vaca de grande escala a pintura típica das pessankas da Polônia. "É uma tentativa homenagear essa cultura que é muito representativa neste estado. Não foi possível usar as técnicas exatas das pessankas polonesas, mas estão lá os símbolos e outro elementos típicos", conta a artista. Sobre a pichação, Zelazowski conta que já soube de ocorrências similares na Cow Parade de São Paulo e Belo Horizonte. "Ela tem um verniz anti-pichação que permite uma limpeza fácil. A gente espera que algo assim possa acontecer, mas, quando acontece, depois de todo o trabalho, não dá para ficar muito feliz, não é?", indaga.
A "Vacabonde", que chamou a atenção de Dayana Teixeira, trabalha o imaginário curitibano. O artista, Marcelo Calado, reproduziu no modelo de vaca a pintura característica do Bonde da Rua XV. "É um ponto tradicional de Curitiba, local em que a gente deixa as crianças fazendo uma atividade, uma tarefinha lúdica", diz o artista. Calado quis homenagear o espaço, resgatando a pintura antiga do bonde, vermelha e cheia de arabescos coloridos. Outra escolha fundamental foi tratar a vaca como uma personagem e não como mero suporte. Por isso o olho e o sorriso da vaca não se encaixam nas respectivas texturas pré-moldadas. "Por isso é uma vaca bem divertida, com os olhos e o sorriso característicos", afirma o artista, que também participou da Cow Parade de São Paulo.
A "Cowtoy", disposta no Shopping Muller, despertou a curiosidade dos visitantes por sua multiplicidade de representações. "Teve até crianças abraçando a vaca. Para mim, foi uma experiência maravilhosa, porque mostra que a criatividade não tem fronteiras de idade, de raça, de lugar, de cultura", afirma a autora do projeto, Cristina Aabdo. Sua idéia foi convidar as 150 crianças carentes atendidas em Belo Horizonte pelo Instituto Oboré a fazer desenhos, pequenos bonecos de meninos e meninas. O trabalho de Aabdo foi conceber uma maneira para dispor os bonecos na superfície da vaca. "Decidi que não deveria ser o trabalho de uma mão apenas, porque são trabalhos de 150 pessoas e suas representações de mundo. Convidei crianças pequenas e jovens para colocar os recortes e assim alcançar a dinâmica necessária", explica a artista, que qualifica o resultado final como "uma festa".
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião