A fila tem de andar, como se diz por aí. E Marina Lima é o tipo de artista consciente disso. Mesmo seus discos menos inspirados têm a cara do que melhor se produzia na época. Alguns deles talvez soem datados hoje, mas não se pode dizer que a cantora se manteve acomodada em fórmulas conhecidas. Lá nos Pri-mórdios, felizmente, comprova que essa relutância em não estacionar continua intacta. O mesmo vale para a economia e a elegância, duas marcas registradas de seu trabalho.
Adepta da eletrônica, Marina soube combiná-la aos instrumentos tradicionais como poucas vezes em sua carreira. Ponto para ela, mas também para sua banda de apoio, cuja formação é a mesma do show apresentado no Ibirapuera (nada como o entrosamento...). O grupo vai do rock ao baião, da MPB ao tango. Sem nunca perder a unidade, diga-se.
As letras, como sempre, trazem uma coleção de bons achados. A melhor delas, "Anna Bella", parceria com o irmão Antonio Cícero, fala sobre a necessidade de um "Salto mortal, salto vital, sobre a cidade, a burrice e o mal". De quebra, pergunta "Por que as mulheres também não podem ter a sua sauna gay?". Outra pérola é "Vestidinho Vermelho", versão para uma música de Laurie Anderson e, de longe, a faixa mais divertida do CD. "Dizem que as mulheres não devem ser presidentes/ Porque a gente pira, a gente mente/ Mas quer saber?/ Cola em mim/ Mas cuidado/ Porque a minha maré tá cheia/ E a sua vai subir também". Não dava um ótimo jingle para a campanha de Heloísa Helena? (OG) GG1/2