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O diretor Sérgio Borges: consagração | Divulgação/Festival de Brasília
O diretor Sérgio Borges: consagração| Foto: Divulgação/Festival de Brasília

Houve vaias, aplausos, gritos e até a leitura de um manifesto pela permanência de Juca Ferreira no cargo de Ministro da Cultura. A cerimônia de premiação do 43.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizada na noite de terça-feira (30), certamente não foi a mais polêmica do evento, que sempre foi reconhecido como a principal vitrine do país para produções autorais brasileiras – Carlos Reichenbach e Ruy Guerra participaram do festival como jovens cineastas e, nesta edição, tiveram seus filmes Lilian M. e Os Deuses e os Mortos, respectivamente, exibidos em sessões hors concours.

Desta vez, o barulho não foi desencadeado pelo espírito de provocação política e de experimentação de linguagem dos filmes, como é costumeiro, mas pela divulgação da relação de premiados pela Folha Online e pelo site UOL pouco antes da cerimônia.

Já cientes do resultado, a platéia bradava a cada anunciação de um vencedor: "O UOL já deu!". Uma produtora que integrou o júri de curtas-metragens subiu ao palco para entregar um prêmio e pediu, aos gritos, explicações da organização do festival sobre o vazamento das informações.

A assessoria de imprensa esclareceu, ao final do evento, a arbitrariedade da divulgação dos resultados pela Folha Online e o UOL antes do período estabelecido no material enviado por e-mail a alguns jornais do país. "Havia o compromisso de di­­vul­­gar os premiados somente no dia seguinte, na mídia impressa", disseram. O produtor do filme O Céu Sobre os Ombros, Helvécio Marins, no palco com a equipe para receber um dos cinco Candangos concedidos ao filme, aproveitou a deixa: "A Folha está sempre contra o cinema brasileiro!". "Contra o Brasil!", gritou al­­guém na platéia.

Premiados

Mesmo ofuscada na premiação pelo incidente midiático, a ousadia e a experimentação se apresentaram como marcas evidentes da seleção de longas desta edição do festival – que cumpriu seu papel de reconhecer e apresentar produções novas e originais como não fazia tão bem há alguns anos. Características apreciadas pelo júri oficial ao conceder cinco troféus ao longa-metragem O Céu Sobre os Ombros, do mineiro Sérgio Borges: melhor filme, prêmio especial do júri, melhor direção, roteiro e montagem.

É um filme corajoso, seja pela escolha dos três personagens, pessoas de carne osso que ganham dimensão fictícia diante das câmeras, seja pelo modo como lida com eles ao longo de um filme que, ao invés de contar histórias bem acabadas, captura momentos-sínteses.

Os universos de um transexual que dá aulas na faculdade, de um hare krishna membro da fanática torcida Galoucura, do Atlético Mi­­neiro, e de um escritor que não quer ser lido poderiam facilmente dar origem a um filme sobre pessoas marginalizadas. Borges, neste que é seu primeiro longa-metragem, vai atrás de outra coisa. Sem julgar ou estigmatizar, ele simplesmente nos põe em contato com modos peculiares de viver, com os quais acabamos por identificar, como em um jogo de espelhos.

A repórter viajou a convite da organização do festival.

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