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Quando menino, John Legend adorava imitar Michael Jackson, rebolando e cantando na sala da casa de seus pais para as visitas. Até aí, nenhuma novidade. Ao longo de toda a década de 80, jovens da Malásia à Argentina, do Japão à Finlândia, chacoalhavam o esqueleto ao som das dezenas de hits irrestíveis do ex-menino prodígio da música negra norte-americana, como "Beat It", "Billy Jean" e "Bad". Logo, no entanto, Legend percebeu que a música era mais do que mera diversão infantil: corria nas suas veias e estava fadada a se tornar seu ganha-pão.

Se antes dos dez anos Legend já acompanhava ao piano o coral da sua igreja, não foi exatamente fácil conseguir gravar Get Lifted (Sony/BMG), o primeiro disco por uma grande gravadora, apesar de todo seu reconhecido talento. O artista traz no currículo, além do diploma em Inglês pela Universidade da Pensilvânia, trabalhos com grupos vocais de gospel, vários CDs demo, gravados em apresentações ao vivo na região de Filadélfia, e participações especiais em discos de nomes de ponta música negra contemporânea, como Lauryn Hill, Alicia Keys, Janet Jackson e Kanye West, co-autor e produtor de várias faixas de Get Lifted.

Vencedor de três Grammy, nas categorias de artista-revelação (uma das mais importantes do prêmio), melhor álbum e performance masculina de r&b, John Legend parece ter finalmente alcançado o patamar que tanto almejava. O reconhecimento da indústria fonográfica endossou o que os meios musicais já vinham comentando há algum tempo: Legend é, ao lado de Alicia Keys, um dos artistas mais interessantes surgidos na black music norte-americana nesta década.

Definir a música de John Legend é, obrigatoriamente, buscar saber quais foram os músicos que mais o influenciaram em sua formação. Dos monstros sagrados Curtis Mayfield, Stevie Wonder, Aretha Franklin e Al Green a nomes mais contemporâneos, como a própria Alicia Keys e Lauryn Hill (integrante do The Fugees), ele construiu sua musicalidade a partir de referências diversas, que incluem old school soul, gospel e hip-hop urbano mais contemporâneo, na trilha de gente do calibre dos consagrados Jay-Z e Kanye West.

Elegante sem cair na armadilha de tentar ser cool (não há nada mais anacrônico do que isso), Get Lifted possui uma unidade supreendente para um trabalho de estréia. Entre seus destaques está a bela "Ordinary People", indicada ao Grammy de melhor canção do ano (perdeu para "Sometimes You Can’t Make It on Your Own", do U2). Uma das últimas a serem gravadas, tem um arranjo simples e enxuto, que toma como base a bela melodia dedilhada por Legend ao piano. A faixa, que começa a tocar nas rádios brasileiras, é um bom começo para quem Legend é ainda um ilustre desconhecido. GGG1/2

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