Com temática e estética fortes, Bellocchio continua sendo, ao lado de Bertolucci, a “salvação” do cinema italiano| Foto: Divulgação

Premiação

Edição tem vários "favoritos"

Carnage, de Polanski ou Dangerous Method, de Cronemberg? Sokurov ou Crialese? Fausto ou o chinês A Simple Life? Kate Winslet melhor atriz e Michael Fassbender melhor ator? Andrea Arnold como melhor diretora pelas transgressões em O Morro dos Ventos Uivantes ou o sueco Tomas Alfredson pelo bem construído vintage de espionagem Tinker, Tailor, Soldier, Spy? Esses seriam, em tese, os mais credenciados. Mas a decisão final, claro, está com o júri presidido por Darren Aronofsky, que tem ainda os diretores André Téchiné, Mario Martone, Eija Athila, Todd Haynes, a atriz Alba Rohrwacher e o compositor David Byrne.

Não foi um festival que levasse a grandes frissons premonitórios, mas, de qualquer maneira, os momentos derradeiros de um evento com as proporções desta 68.ª edição sempre criam expectativas. É mais ou menos como acompanhar um jogo de futebol, seguindo com atenção as alternativas. Há bons lances, alguns com mais, outros com menos brilho. No momento, o empate persiste. O resultado da competição será divulgado após a cerimônia de premiação, que ocorre neste sábado, a partir das 19 horas no horário local (15 horas de Brasília).

Preferidos

Como sempre há por aqui um número expressivo de asiáticos, pode sobrar recompensa para a grande comitiva chinesa. Não que sejam inviáveis para prêmios, mas não surpreenderam e ficaram nas franjas da burocracia. Israel, Japão, França e Grécia desiludiram, enquanto os americanos até agradaram, mas não tiveram grandes momentos.

Assim, os olhos devem se voltar mesmo para o parágrafo inicial. No entanto, nunca deposite certezas em jurado de festival. Às vezes, nem cinéfilos são. (CLJ)

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Veneza, Itália - É especialmente significativo que o 68.º Festival de Veneza tenha deixado para a véspera do encerramento a homenagem especial – Leão de Ouro pela carreira – ao cineasta Marco Bellochio. O momento tem duplo significado. Um, intencional e oficial, por que o gesto representa reconhecimento. Afinal, é um nome emblemático da história do cinema italiano. O outro, involuntário (ou não), acentua o abismo que separa o ontem e o agora do cinema italiano. Pelo que se viu na competição, com exceção de esparsas qualidades no Terra Ferma, de Emmanuele Crialese, não há muito o que esperar da produção italiana na temporada.

Ao receber o prêmio das mãos de Bernardo Bertolucci, veterano que também marcou a mais fecunda estação do cinema político italiano, Bellocchio ganha o reconhecimento por uma trajetória marcada, acima de tudo, pela capacidade de se reciclar. Aos 72 anos, ele obviamente não é mais um jovem, mas ainda é um rebelde. Entenda-se por rebeldia a militância no cinema de pensamento: é só avaliar Em Nome do Pai, realizado há 40 anos e relançado na mostra veneziana em impecável cópia restaurada, e o recente e perturbador Vincere.

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Bellocchio, provavelmente o autor do país que mais soube resistir à pressão da inércia criativa, fez a coisa certa. Sem descuidar dos motivos permanentes de sua cruzada temática – a crítica à família, à religião e às instituições –, ele refinou a linguagem. Diretor de forte pegada política, embora sem abdicar do lirismo, ele nunca foi ideológo no sentido de Godard ou mesmo de Bertolucci, mas um criador de realismo simbólico.

Projetos

Parece que o diretor reencontrou nos últimos anos uma segunda juventude, refletindo com estilo sofisticado àquela rebeldia já referida, e que tão bem desnudou as misérias da burguesia. Poucos Leões especiais foram tão merecidos como o entregue para Bellocchio, que não pensa em parar: entusiasmado com o novo projeto, começa a filmar neste ano um drama sobre a eutanásia, tendo como suporte a história de Eluana Englaro. A mulher, que sofreu um acidente de carro, entrou em coma e foi mantida viva por 17 anos até sua morte em 2009, após o desligamento dos aparelhos.