Alexandre Órion, jovem grafiteiro e fotógrafo paulistano, está em Curitiba desde sexta-feira passada, preparando as paredes da Galeria da Caixa para receber as fotografias de sua mostra, Metabiótica, aberta ao público a partir de hoje.
As obras apresentadas na galeria discutem, com graça, a manipulação de imagens própria do fazer fotográfico, fruto dos programas de edição, como o Photoshop, ou mesmo da escolha do ângulo e dos recursos de iluminação no momento do clique.
A ilusão de realidade permitida pela fotografia é responsável, por exemplo, por mulheres buscarem os corpos impossíveis estampados nas capas de revistas e por homens sonharem em encontrar garotas irreais como aquelas, lembra Órion. Sua Metabiótica inverte a situação, criando "ilusões de mentiras". Suas fotografias parecem montagens, mas não são. "Se as minhas verdades parecem mentiras, por que as mentiras não podem parecer verdades?", provoca.
O processo de trabalho do artista se deu em duas etapas. A primeira, de intervenção urbana, começou no fim de 2001, em São Paulo, com a intenção de modificar ou ampliar o significado de um determinado lugar. Órion, então no controle do que ocorreria, escolheu espaços da cidade onde pudesse pintar figuras, prevendo que, em algum momento, sofreriam a interação de algum passante. Procurou, por exemplo, uma área de trânsito de carroceiros e pintou um cavalo no muro.
A segunda etapa exigiria paciência para esperar o instante exato em que alguém interagisse com a pintura, sem que o artista tivesse controle algum do desenrolar da obra. No caso do cavalo, foi quando um carroceiro atravessou em frente a ele, causando a impressão de que carregava o animal em seu carrinho numa inversão de papéis.
"Muita gente acha que são montagens, que eu pedi para as pessoas posarem ou foram feitas no computador, mas não. Esse menino (da fotografia que abre esta matéria) usa uma mochila preta. Eu jamais imaginei que ele fosse se dirigir à imagem, criando um efeito de que a mão da sombra sobrepõe o menino para pegá-lo. Cada imagem tem um toque da realidade que supera muito o que eu poderia planejar", revela.
Foram feitas, ao todo, 19 intervenções, dentre as quais algumas mereceram desdobramentos, apresentados na exposição na forma de um vídeo. Outras mais ainda podem ser criadas no futuro, pelo menos essa é a intenção do artista, que agora se dedica ao projeto Arte Menos Poluição em 2006, interviu em um túnel da cidade de São Paulo, cujas paredes, originalmente amarelas, haviam se tornado negras por obra da poluição. O artista desenhou sobre a sujeira, com um pano úmido, mais de 500 mil crânios humanos.
O trabalho de última hora que Órion veio realizar em Curitiba antes da abertura de sua exposição foi pintar, nas paredes onde estarão suas fotografias, figuras em tamanho real, que reproduzem aquelas estampadas por ele nos muros da capital paulista e que geraram os registros fotográficos.
Fotografe
Um último aviso aos visitantes: preparem suas máquinas fotográficas, porque a idéia é seguir o exemplo. A usual proibição de fotografar na Galeria da Caixa não valerá dessa vez. As obras ficam à disposição do espectador, para que este invente sua própria interação, como personagem da cena. Essas fotos podem não ter a espontaneidade das imagens capturadas pelo artista, mas são, diz ele, mais um dos diálogos possíveis entre a vida e a arte.
Serviço
Exposição Metabiótica, de Alexandre Orion. Galeria da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5114. De terça a quinta-feira, das 10 às 19 horas, e de sexta-feira a domingo, das 10 às 21 horas. Até 2 de novembro. Classificação indicativa: livre.
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