Uma visita a grupos étnicos na África do Sul trouxe inspiração para Daniela Thomas criar a cenografia que vai receber os visitantes da 21ª edição da São Paulo Fashion Week, a partir da próxima quarta-feira (12).
O mergulho africano foi intencional. Paulo Borges, idealizador da SPFW, organizou uma viagem com uma comitiva, que acabou refletida também na coleção de Lino Villaventura, integrante do grupo. Alexandre Herchcovitch, que visitou a região, também trará motivos africanos para suas criações.
- Foi bem inspirador - disse a cenógrafa e cineasta Daniela Thomas que visitou grupos de família zulu e ndebele, além de favelas em Soweto (Johanesburgo) e na Cidade do Cabo este ano.
- O interessante desses grupos é que eles vivem segundo os padrões que eles têm há muitos anos, misturados com o nosso jeito ocidental de viver.
Daniela, que assina a cenografia da SPFW pela quarta vez ao lado do arquiteto Felipe Tassara, contou como os sul-africanos decoram seus barracos nas favelas, às vezes com grafismos em tintas coloridas ou com rótulos de produtos que sobram das gráficas, colando-os nas paredes como se fossem papel de parede.
- Não quisemos fazer uma coisa etnográfica, muito séria. A gente tratou o que a gente viu como um DJ ou um VJ trata os samples - disse a cenógrafa, que criou rótulos imaginários para usar como papel de parede. - Eles próprios reciclam tanto a cultura visual ocidental quanto a deles.
Daniela e Tassara voltam a usar o papelão como matéria-prima da cenografia, da mesma forma como na temporada passada. Mas, no lugar da cor marrom característica do papelão, que cobriu boa parte das paredes do prédio da Bienal, desta vez haverá uma explosão de cores. As salas de desfile também ganham a cenografia, com curvas em papelão trabalhado na cor branca.
- O processo do papelão é muito interessante como forma de arquitetura efêmera, instantânea. A fabricação é rápida e o processo de construção, muito limpo, não deixa praticamente refugo. Depois, se desmonta e manda imediatamente para a reciclagem - disse Daniela.
Esta foi a primeira vez de Daniela na África do Sul, mas ela já havia visitado a África há mais de dez anos, quando filmou na ilha de Cabo Verde a cena final de "Terra estrangeira", com o qual dividiu os créditos da direção com Walter Salles.
Ela considera que a vontade atual da moda pelas cores e grafismos da África é difícil de explicar.
- Acho que é o desejo de olhar para os lados, depois de ficar sempre recebendo informações através do Hemisfério Norte - disse.
- A moda parece uma coisa muito superficial, mas, na verdade, no momento em que você faz a pesquisa, que trabalha os seus temas, você faz imersões incríveis - disse Daniela, que fará pela sexta vez a cenografia do desfile da Maria Bonita.
Durante os setes dias de SPFW, que apresentará cerca de 50 desfiles, pelo menos dois deles irão trazer um pedacinho da África. No Fashion Rio, em junho, Sommer, Zil e Blue Man também trouxeram motivos africanos diluídos em suas coleções.
Alexandre Herchcovitch divulgou em junho uma imagem de um tênis customizado com miçangas e desenhos da tribo ndebele. Ele também assina as criações da Cori, outra grife da SPFW.
Lino Villaventura disse que criou sua nova coleção inspirado "nos modos, costumes e cultura africanos".
- Fiquei impressionado com a maneira como eles tratam e trabalham os tecidos, os bordados com pedrarias e contas, as amarrações e o uso perfeito na combinação das cores - disse o estilista.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião