Thriller adolescente renovado
Com dez filmes franceses inéditos no Brasil, o Festival Varilux de Cinema Francês, que termina no dia 16, procurou revelar a diversidade de produções do atual cinema francês. Há uma gama de comédias, uma animação, dramas, aventuras e até um filme "adolescente".
As crianças francesas e brasileiras que assistiram no último sábado à projeção da animação Um Gato em Paris, no Forte do Leme, no Rio de Janeiro, como parte do Festival Varilux do Cinema Francês, riram com o cachorro histérico que, ao latir para Dino, o gato, levava chineladas do dono que queria dormir. Assustaram-se com os tiros do bandido louco para pôr as mãos em uma obra de arte valiosíssima. Emocionaram-se quando a menina Zoé, dona do gato, volta a falar com a mãe, a policial Jeanne, após um tempo calada por conta do trauma vivido pela morte do pai. E saíram com um pôster do filme assinado por um dos diretores, Alain Gagnol.
A última sessão do filme no Unibanco Arteplex Crystal, hoje, às 14 horas, não virá acompanhada da mesma lua sobre o Morro do Leme e nem de autógrafos de seus criadores. Mas, a exemplo do filme infantil da edição anterior do Varilux, O Pequeno Nicolau, a aventura policial criada por Gagnol e Jean Loup Felicioli é diversão garantida para crianças ou adultos.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Gagnol conta que, no início, o filme foi pensado somente para o público infantil. "Mas uma história policial contém elementos que atraem também os adultos como o suspense, o mistério, o perigo", diz, espelhando-se nos filmes da Pixar, feitos para agradar toda a família. "Em Up Altas Aventuras, por exemplo, há questões como o luto e metáforas poéticas como o personagem idoso, que carrega a própria casa nas costas", diz.
Um Gato em Paris, de apenas uma hora de duração, investe no clima de cinema noir para contar a história de Dino, que leva uma vida dupla como qualquer outro animal de sua espécie: de dia, se enovela no colo da dona para dormir; à noite, circula sorrateiro pelos tetos de Paris ajudando o ladrão Nico a assaltar residências. A rotina felina muda quando um perigoso ladrão de obras de arte cruza o caminho da dupla e põe em risco a menina Zoé.
Ao contrário de muitas produções norte-americanas, os diretores da animação preferiram investir exclusivamente na qualidade artística do desenho e do roteiro ao invés de apelar para o 3D ou outros efeitos especiais. "O 3D não traz nada para a animação. Um quadro bem feito já dá o efeito de profundidade necessário e, além disso, na imagem plana, o olhar pode circular por todo o quadro", explica Gagnol.
Bom, bonito e barato
Escritor de romances policiais, ele conta que a animação francesa, até por questões econômicas, é muito influenciada pela literatura. "Mas essa limitação financeira acaba sendo positiva, pois nos força a inventar mais, explorar uma característica do cinema que é tanto mostrar como não mostrar", conta ele, que contou com um orçamento de quatro milhões de euros. Ele lembra que a animação francesa floresceu a partir da realização de filmes como As Bicicletas de Belleville (2003), de Sylvain Chomet, quando se provou ser possível ganhar dinheiro com o gênero. "O cinema é caro, é tanto arte quanto indústria, mas as pessoas estão dispostas a ver produções diferentes, por isso, a animação francesa faz sucesso internacionalmente", explica.
Um Gato em Paris estreou em 2010, no Festival de Cinema de Berlim, foi comprado nos Estados Unidos e bem acolhido pelo público de diversos países, de Hong-Kong à Bélgica. "Na Suíça e na Holanda, não funcionou bem, porque tivemos como concorrente nas salas de cinema o filme Enrolados [da Disney]". Produzido pelo pequeno estúdio Folimage, sediado em Bourg-les-Valences, no sul da França, o filme é formado por 40 mil desenhos criados por uma equipe de 60 pessoas, sendo 12 desenhistas. "Criamos um método econômico e eficiente de trabalho, com o menor número de tomadas possíveis", conta Gaignol que, ao lado de Felicioli, produz curtas-metragens de animação há 15 anos. GGGG
A jornalista viajou a convite do Festival Varilux.
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