Há algo em comum entre filmes eróticos e de esportes radicais. Ambos podem ser classificados em duas categorias: com ou sem "história". Quando uma produção de qualquer um dos dois gêneros apresenta um roteiro no mínimo razoável, tem grandes chances de atrair o público não-iniciado. Do contrário, fica restrito apenas aos aficionados.
Fábio Fabuloso, recém-lançado em DVD, é um interessante exemplo de "filme de esporte com história" assim como Dogtown & Z-Boys, também disponível nas locadoras, sobre o boom da cultura do skate nos Estados Unidos. Apesar de concentrar boa parte de sua ação em seqüências de surfe propriamente ditas, o documentário tem como grande sacada o uso da linguagem típica do cordel nordestino para narrar as aventuras do paraibano Fábio Gouveia, considerado o maior surfista brasileiro de todos os tempos.
Vindo de um estado pobre e, segundo quem entende do assunto, com as menores ondas do Brasil, Gouveia, hoje com 35 anos, emplacou uma carreira internacional e abriu caminho para outros compatriotas fazerem o mesmo. O filme narra sua trajetória desde os tempos de infância, quando o garoto pobre da cidade de Bananeiras pegava carona em caminhões carregados de cana para surfar em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte.
Além de se apropriar da literatura de cordel, os diretores Pedro Cezar, Ricardo Bocão e Antônio Ricardo também fazem uso do consagrado estilo narrativo do diretor gaúcho Jorge Furtado (Ilha das Flores, O Homem que Copiava) em que a menção de um termo ou palavra pode abrir espaço para uma explicação paralela, quase no formato de hipertexto. Graças a esse recurso, conseguiram conferir uma agilidade ao trabalho, garantindo a atenção da audiência leiga em surfe.
Fábio Fabuloso, no entanto, peca por não se aprofundar na investigação da personalidade de Gouveia. Ficamos sabendo que ele é um sujeito simples, simpático, brincalhão, bom pai. E só isso. Mesmo a família do atleta é apresentada apenas na parte final do documentário.
O universo do surfe é tão superficial assim? A julgar pela lengalenga dos depoimentos de surfistas brasileiros, sim. A maioria não diz nada com nada, resumindo-se a exaltar a "linha de onda perfeita" de seu ídolo.
Não há sequer uma entrevista com Gouveia ao longo dos cerca de 60 minutos da produção, e a melhor participação fica por conta de um jornalista do canal pago Sportv. De acordo com ele, o paraibano é a prova de que não é preciso ter o perfil característico do surfista profissional para vencer no circuito internacional ("Você pode ser qualquer pessoa e ser um grande surfista", diz). Mesmo assim, é muito pouco. Termina o filme e ficamos sem saber quem realmente é Fábio Gouveia. GG1/2