Nadzieja Didycz e Florência da Rocha diante do tapume da Casa Kozák.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Houve um tempo em que moradores da Vila São Paulo – no Uberaba, em Curitiba – tinham uma biblioteca. Chamava-se Casa Kozák e era, como se diz para resumir, “um sucesso”.

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Durante pouco mais de duas décadas, entre 1989 e 2011, a Kozák funcionou na categoria “sala de leitura de bairro”, armada com boa programação cultural – entre tantos, Cristovão Tezza esteve lá para um papo com os usuários, no sótão –, mas sem deixar de tirar proveito das relações de vizinhança.

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A Casa Kozák – administrada numa parceria entre a Fundação Cultural de Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura e Associação de Moradores da Vila São Paulo – foi fechada em 2011 por uma determinação da Cosedi ( Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis). Podia cair.

A construção dos anos 1940, com pouco mais de 150 metros quadrados, não tinha condições de ser usada.

O imóvel do indigenista tcheco Vladimir Kozák (1897–1979) ficou para o estado e deu-se início ao novelo sobre quem ia consertar o telhado, a calha e dar um destino à caminhonete verde do pesquisador, que apodrece até hoje no quintal.

Resumo da ópera: a burocracia estatal pôs o pé na garganta de uma das mais bem-sucedidas experiências de leitura já realizadas na cidade.

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No início de 2014, depois de 1.460 dias de indefinição, o governo estadual doou a Casa Kozák para a prefeitura. Só não se pode falar em final feliz porque não havia dinheiro nem orçamento para fazer a reforma e devolver o local à comunidade.

Tudo isso é para explicar o som e a fúria com que foi o recebido – quase um mês atrás – a postagem do jornalista Alessandro Martins no blog “O Transgressor”, hospedado na Gazeta do Povo. Martins reproduziu fotos antigas de Roberto Carneiro, do blog Bibliotecas do Brasil, que monitora espaços de leitura, incluindo os que estão em petição de miséria. Nelas se vê a Casa Kozák entregue à própria sorte. O local está fechado há cinco anos.

Em tempos de indignação cívica movida a bipolaridade, a biblioteca deixada ao apetite dos cupins virou candidata a símbolo de fracasso.

Os saudosos da Kozák nunca deixaram de fazer pressão. Querem a biblioteca de volta.

Há quem faça resistência surda, como a contadora de histórias Nadzieja Didycz (diz-se Nadieia), que, depois do fechamento da biblioteca, deu continuidade informal às atividades. Fomentou práticas de leitura na associação de moradores, e agora no Colégio Pio Lanteri e na sala de sua casa. Ativista romântica, aos 77 anos tatuou no antebraço o desenho do “apanhador de sonhos”, fazendo do corpo um instrumento para suas narrativas.

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O assunto “Casa Kozák” provoca mal-estar nos bastidores da secretaria municipal de cultura. “É injusto”, dizem os servidores que aceitaram falar com a reportagem.

O fim parecia selado. Um tapume pintado de preto deixou a questão entregue ao silêncio. Até porque as outras bibliotecas do gênero ficaram para o passado, como um modelo arqueológico, substituído pelas Casas de Leitura.

Passada a indignação diante da biblioteca que fechou, o próximo passo é observar para onde vai, e com que pernas, a política de acesso à leitura no município.

Tanto quanto o perigo do sótão desabar, teme-se que a experiência da Casa Kozák caia no esquecimento.