Villa-Lobos: relação íntima com o violoncelo é tema de livro| Foto: Reprodução
Livro - Heitor Villa-Lobos – O Violoncelo e seu Idiomatismo - Hugo Vargas Pilger. Editora CRV, 284 págs., R$ 109,90 (livro, mais CD e DVD). O CD e o DVD também podem ser comprados separadamente. Não ficção

O maior compositor brasileiro, Heitor Villa-Lobos, tinha bastante familiaridade com dois instrumentos musicais: o violão e o violoncelo. Desde sua adolescência até 1930 (quando já estava com mais de 40 anos) sua atividade como violoncelista foi importante, inclusive para sua sobrevivência financeira. A identidade de Villa-Lobos com o violoncelo é responsável por diversas obras importantes e conhecidas, especialmente as Bachianas Brasileiras Números 1 e 5 (escritas para orquestra de violoncelos) e "O Trenzinho do Caipira" (que viria a se tornar o último movimento da Bachianas N.º 2). Villa-Lobos escreveu dois concertos para violoncelo e orquestra e uma Fantasia para violoncelo e orquestra, obras pouco conhecidas. Esta relação íntima do compositor com o violoncelo é o tema do livro Heitor Villa-Lobos – O Violoncelo e Seu Idiomatismo escrito pelo violoncelista gaúcho Hugo Vargas Pilger. A publicação da editora paranaense CRV ganhou uma impressão primorosa, com excelentes reproduções de fotografias e de programas de concerto. O autor do livro é o violoncelista do Quarteto Radamés Gnattali, além de primeiro violoncelo da orquestra Petrobras Sinfônica. Sua prática como solista lhe confere uma autoridade inquestionável neste assunto. O livro é o resultado de seu mestrado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).

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Pilger constrói suas argumentações a partir de entrevistas com pessoas que tiveram contato com Villa-Lobos e da documentação a que teve acesso e que inclui dezenas de programas de concertos nos quais Villa-Lobos se apresentou como violoncelista. Percebemos nesses programas a influência que algumas obras que o compositor executava tiveram em suas composições. O Cisne, de Camille Saint-Saëns, torna-se O Canto do Cisne Negro e a Gavotte, do compositor Sebastian Lee, aparece em "Gavotte-Scherzo", da Pequena Suíte para Violoncelo e Piano. A relação do compositor com grandes violoncelistas é demonstrada no livro, inclusive com a reprodução de uma foto do espanhol Pablo Casals com uma bela dedicatória ao brasileiro. Listas das obras para violoncelo de Villa-Lobos são complementadas com excelentes análises das composições, recheadas de dados históricos.

Em Paranaguá

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Heitor Villa-Lobos viveu entre 1908 e 1909 em Paranaguá. Sua principal atividade na cidade paranaense foi como violoncelista. O livro esmiúça este período pouco conhecido da biografia do compositor e, assim, ficamos sabendo que concertos eram realizados em um certo "Theatro Santa Celina". Pela qualidade de uma fotografia tirada na cidade e das obras executadas por lá naquela época, pode-se supor que a vida cultural de Paranaguá era intensa.

Registros

Como complementos ao livro, foram realizados um CD duplo e um DVD, em que Hugo Vargas Pilger atua junto à excelente pianista Lúcia Barrenechera. Ambos também são vendidos separadamente. O DVD foi filmado em lugares relacionados à vida de Villa-Lobos, como a tradicional Confeitaria Colombo, no Centro do Rio de Janeiro. Merece especial atenção o registro de obras para violoncelo e piano compostas por Villa-Lobos na juventude e executadas por Pilger na Colombo. É sabido que Villa-Lobos tocava com frequência durante à tarde naquele lugar, e que sua mãe, logo que ficou viúva, trabalhou lá como lavadeira. Em diversas obras, Pilger se utiliza do violoncelo que pertenceu a Heitor Villa-Lobos.

A escolha do repertório inclui obras de outros compositores que remetem ao maior compositor brasileiro: "Homenagem a Villa-Lobos", de Edino Krieger, e "Aquela Modinha que o Villa Não Escreveu", de Francisco Mignone. Tanto o CD como o DVD incluem aquela que é a mais importante obra para violoncelo do compositor: "Fantasia para Violoncelo e Orquestra", numa inédita transcrição do próprio autor para violoncelo e piano. Outra preciosidade é a execução integral da Bachianas Brasileiras N.º 2 na sua forma original para violoncelo e piano. Tanto Hugo Pilger como Lúcia Barrenechera estão soberbos em termos técnicos e musicais.