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Os atores Lucas Cahet (à esquerda), como Villa-Lobos: um malandro que sabia aproveitar as oportunidades | Cleverson Ferreira/Divulgação
Os atores Lucas Cahet (à esquerda), como Villa-Lobos: um malandro que sabia aproveitar as oportunidades| Foto: Cleverson Ferreira/Divulgação
  • Cahet e Juliana Biancato, que faz o papel de Hermínia, uma paixão fictícia
  • Villa-Lobos posa para uma foto, tirada em um estúdio de Paranaguá, em 1908

Há um hiato frequente na biografia de Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), que vem sendo preenchido gradualmente com novas pesquisas sobre a vida do maestro e compositor brasileiro. Sumido por sete anos, entre 1905 e 1912, quando passou pesquisando a música e o folclore brasileiro, sabe-se hoje que Villa-Lobos esteve em Paranaguá, onde morou alguns anos, atuando como músico e comerciante.

Sobre esse aspecto pouco conhecido da vida do compositor, a RPC TV prepara um episódio do quadro "Casos & Causos", do programa dominical Revista RPC. A Paranaguá de Heitor, que irá ao ar no dia 25 de junho, conta algumas passagens da estada de Villa-Lobos pela cidade litorânea paranaense, entre 1908 e 1910.

O roteiro foi escrito por Adonai Sant’Anna, professor do departamento de Matemática da Universidade Federal do Paraná e roteirista por vocação. "Desenvolvi o roteiro com meu filho, Adonai Sant’Anna II, a partir de um convite por parte da produção do programa para escrever sobre a vida do compositor", conta o professor, que já vendeu dois roteiros para o cineasta José Padilha, diretor de Tropa de Elite.

Sant’Anna conta que a pesquisa foi feita em parte por ele e em parte pelo jornalista da RPC Jorge Narozniak, que teve como base dados do Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, e da prefeitura de Paranaguá, além de histórias ouvidas por parentes de pessoas que conviveram com o compositor, como o livreiro João Ghignone. "Há vários aspectos da vida de Villa-Lobos que dão pano pra manga: ele era um personagem muito controverso. Mulherengo e partidário da autopromoção, ele desenvolveu esse nacionalismo em sua música justamente porque queria projetar sua carreira na Europa, já que os europeus não queriam que outros compositores imitassem a música deles", explica.

Comerciante

Dados históricos levantados pela jornalista da Gazeta do Povo Rosy de Sá Cardoso para a revista do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, em 2006, apontam que Villa-Lobos de fato esteve no Estado, fugido da polícia. Citando o escritor paranaense radicado no Rio de Janeiro Toninho Vaz, que também fez uma pesquisa sobre o compositor junto ao Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, Rosy explica que, na então capital do Brasil, as rodas de choro eram consideradas marginais, e os chorões, como eram chamados os músicos dessas rodas (incluindo Heitor Villa-Lobos), eram perseguidos pela polícia.

A razão era a suposta proximidade desse estilo musical com outras práticas toleradas com restrição pela sociedade, como a umbanda e a capoeira. "Havia ainda, contra os chorões, o estigma de beberrões e ‘capadócios’ – cafajestes – (...) sinônimo de arruaceiros e boêmios, tipos socialmente indesejáveis pelas camadas emergentes da nova República", escreveu Toninho Vaz. Esse ponto, porém, não está totalmente esclarecido. "Algumas fontes apontam também que ele poderia vir fugido de alguns pais de família, que queriam sua cabeça por ele ter se envolvido com suas filhas", afirma Adonai Sant’Anna.

Rosy Cardoso explica que, uma vez em Paranaguá, Villa-Lobos apaixonou-se por uma moça chamada Clélia, filha de um fabricante de doces de banana que o empregou. O episódio do "Casos & Causos" explora o lado comerciante do músico, que trabalhou ainda como caixeiro viajante na empresa de navegação do coronel Elysio Pereira. A partir desses episódios pouco fundamentados historicamente, Sant’Anna construiu em seu roteiro uma ficção, onde aparece uma outra mulher, Hermínia, filha do coronel Izeu, ambos fictícios. O ator Lucas Cahet, que faz o papel de Villa-Lobos no episódio, conta que foi essa faceta galanteadora do compositor a base para construir o personagem. "Explorei esse lado mais moleque dele. O Villa era ma­­landro, mas não no mau sentido da palavra. Ele sabia aproveitar as oportunidades. Foi isso que quis passar", diz.

O primeiro concerto

A música, é claro, não poderia ser deixada de lado. Dados históricos apontados por Rosy atestam que, ao contrário do que suas biografias afirmam, o primeiro concerto de Heitor Villa-Lobos não foi em Nova Friburgo, em 1915, mas em Paranaguá, em 26 de abril 1908, no Theatro Santa Celina, já demolido. "...além de Villa-Lobos figurar como ‘violoncelo’, no programa daquela apresentação, encimado por seu nome, a overture [abertura] era de sua autoria e foi por ele regida", escreveu a jornalista.

A passagem do compositor pela cidade, de acordo com os pesquisadores, foi fundamental para o estilo que o definiu. "Ele deu aulas de bandolim para as moças, e conheceu o fandango e a viola caipira. Seu repertório foi enriquecido pela música paranaense", afirma Adonai Sant’Anna.

Serviço

O episódio A Paranaguá de Heitor vai ao ar na edição da Revista RPC do próximo domingo, dia 26 de junho.

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