Se A Pele Que Habito não chega a ser um grande filme de Pedro Almodóvar, da estatura de obra-primas como Carne Trêmula ou Fale com Ela, o longa tem o mérito de se revelar, ao longo de seus 117 minutos de duração e em vários aspectos, uma das obras mais ousadas do cineasta espanhol, que não se rende ao comodismo e continua explorando novos territórios estéticos, narrativos e temáticos.
Baseado no romance Tarântula, de Thierry Jonquet, A Pele Que Habito tem uma daquelas tramas sobre as quais o crítico não deve falar em detalhes, sob o risco de estragar a experiência do espectador que gosta de ser surpreendido.
Sem trabalhar com Almodóvar desde Ata-Me (1990), Antonio Banderas reencontra o diretor que o colocou em evidência no mundo do cinema e encara um personagem que foge e muito dos papéis aos quais foi reduzido por Hollywood. Berto é tudo menos um latin lover.
Cirurgião plástico, ele é apresentado no início do filme como pesquisador obcecado pela descoberta de uma pele transgênica, capaz de revolucionar o tratamento de vítimas de queimaduras graves e outras doenças dermatológicas degenerativas. Desafiando os limites da ética médica, Berto vem usando há alguns anos uma cobaia humana chamada Vera (Elena Anaya, de Lucia e o Sexo), sobre quem se sabe muito pouco.
O que aos poucos é revelado é que Vera, com o tratamento de reconstituição epidérmica ao qual vem sendo submetida, se torna mais e mais parecida com Gal, mulher de Berto, que morreu de forma trágica. E essa não é a única perda traumática na vida do cirurgião: sua filha, a emocionalmente instável Norma (Blanca Suárez), se suicidou depois de ter sofrido um estupro em uma festa de casamento.
Em um longo flashback, as peças do quebra-cabeças que envolve o projeto de Berto vão se encaixando e revelando uma história muito mais terrível do que aparentemente se supõe.
Esteticamente impecável, como de hábito, Almodóvar constrói um misto de melodrama, um de seus gêneros cinematográficos prediletos, e thriller psicológico, flertanto com o grotesco e o absurdo. Berto é uma espécie de doutor Frankenstein pós-moderno, cuja criação é resultado de seus muitos traumas e obsessões, e que faz uso da ciência e da tecnologia para dar vazão a sua loucura.
O resultado é uma perturbadora e sombria fábula de vingança que discute, entre outros temas, como se dá a construção de gênero, e brinca com os limites entre a orientação e a identidade sexual do ser humano.
Mais do que isso, é proibido contar.
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