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O Pearl Jam em 1991, ano em  que começou a invasão grunge ao lado dos conterrâneos do Nirvana,  Soundgarden e  Alice in Chains | Divulgação
O Pearl Jam em 1991, ano em que começou a invasão grunge ao lado dos conterrâneos do Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains| Foto: Divulgação
  • Documentário é dirigido pelo cineasta Cameron Crowe, amigo e fã da banda de Seattle

Um comentário feito por Eddie Vedder resume boa parte da relação que sua banda, o Pearl Jam, estabeleceu com a fama. O músico conta que Ian MacKaye, do grupo punk Fugazi, lhe disse certa vez que pouco se importava com a preparação do repertório dos shows. "Mas eu me importo muito. E me odeio por isso", emenda Vedder. A fala está no conteúdo extra do documentário Pearl Jam Twenty, que acaba de ser lançado em DVD no Brasil. O filme, dirigido por Cameron Crowe, vencedor do Oscar pelo roteiro de Quase Famosos (2000), celebra com depoimentos inéditos e imagens históricas os 20 anos do Pearl Jam – cuja turnê em comemoração ao aniversário passou por Curitiba no último dia 9.

Apesar de ter surgido meio ao acaso, sem grandes expectativas, o Pearl Jam foi alçado à condição de uma das maiores bandas de rock do planeta nos anos 1990, aparecendo na capa da revista Time e quebrando recordes com o álbum Vs. (1993) – 1 milhão de cópias vendidas nos Estados Unidos apenas na semana de estreia. E foi o redemoinho do superestrelato que deixou Vedder e companhia desorientados. Ao mesmo tempo em que desejavam agradar ao público, que crescia vertiginosamente, sentiam-se incomodados com a pressão para fazer videoclipes, participar de um filme (Singles – Vida de Solteiro, de 1992, também dirigido por Crowe), cercar-se de mais seguranças e conceder entrevistas para todo e qualquer veículo de cultura pop. Principalmente, preocupavam-se com a possibilidade de "trair" os fãs originais, que lhes deram apoio nos clubes de Seattle. E, mesmo após duas décadas de estrada, o vocalista mostra que continua dividido entre preparar um set list perfeito e tocar aquilo que der na telha. "Você tem que agradar o cara que está lá no fundo e que quer ouvir os hits", conclui Vedder, numa espécie de autoafirmação.

"Não!"

Em Twenty, a contradição que tanto incomodou os integrantes do Pearl Jam surge, em certa medida, parecida com aquela enfrentada por Kurt Cobain, do Nirvana. A própria rivalidade entre as duas bandas, alimentada e incentivada à época pela MTV, deixava Vedder desconfortável (ele era, afinal, um grande admirador do trabalho dos "concorrentes").

Cobain não conseguiu lidar com o sucesso e com a depressão crônica e estourou os miolos em 1994. Meses antes, Vedder, os guitarristas Stone Gossard e Mike McCready e o baixista Jeff Ament decidiram adotar a política do "não" para conter a avalanche gerada pela superexposição: não iriam lançar singles, não gravariam clipes, não optariam pelo formato CD para distribuir o seu futuro álbum (Vitalogy existiu apenas em vinil durante cerca de um mês) e não aceitariam os preços determinados pela Ticketmaster para os ingressos cobrados em seus shows (uma briga que resultou numa turnê "independente", sem o apoio da empresa, e cujas apresentações foram um fiasco de organização).

O preço de tantas negativas foi um semiesquecimento, uma perda de relevância durante um período, na virada do milênio, quando o Pearl Jam era visto apenas como um sobrevivente do movimento grunge, um retrato do então recente passado musical. Foi essa também a época em que a banda sofreu o maior baque de sua trajetória: em junho de 2000, nove fãs morreram pisoteados pela multidão que assistia à sua apresentação no festival de Roskilde, na Dinamarca. No filme, o grupo é enfático ao dizer que o evento mudou o estilo dos seus shows: saíram completamente de cena o descontrole, os mergulhos na plateia e o quebra-quebra que deixavam Vedder com hematomas e arranhões depois dos espetáculos, e começaram as performances mais contidas e de atitude menos punk.

Bateristas

Desde sua formação, o Pearl Jam já empregou cinco bateristas. É verdade que o atual portador das baquetas, o ex-Soundgarden Matt Cameron, está na banda há mais de 12 anos, mas a alta rotatividade no posto nunca foi muito bem explicada pelos demais integrantes. E parece que eles querem que o assunto continue debaixo do tapete. A principal lacuna do documentário, que tem duas horas de duração, é dedicar exato 1 minuto e 45 segundos ao tema. Cabe a McCready explicar que a experiência com Dave Krusen, que participou das gravações de Ten (1991), "não funcionou"; que Matt Chamberlain não estava disposto a fazer turnês; que Dave Abbruzzese também não deu certo; que Jack Irons foi convidado a integrar a banda entre 1994 e 1998 só como uma espécie de agradecimento pelo fato de ter sido ele quem tinha apresentado Eddie Vedder a Jeff Ament... e tudo fica por isso mesmo. Nenhum dos ex-bateristas tem a oportunidade de dar a sua versão da história.

Por outro lado, um grande mérito do longa-metragem é ressaltar a importância de Stone Gossard e Jeff Ament – os verdadeiros fundadores do Pearl Jam – para a cena roqueira do noroeste dos EUA. O guitarrista e o baixista participaram de várias bandas da era pré-grunge nos anos 1980. Ambos integraram o Mother Love Bone, que, junto com o Soundgarden, era depositário das maiores esperanças de estrelato global para a turma de Seattle. O sonho foi interrompido pela morte por overdose do vocalista Andy Wood, em 1990. Meses depois, quando Gossard e Ament recrutaram Vedder e mudaram o nome do grupo, a profecia se realizou. GGG

Serviço

Pearl Jam Twenty (Estados Unidos, 2011). Direção de Cameron Crowe. Monkeywrench/Sony Music. Documentário. Preço médio: R$ 38,70 (DVD). Classificação indicativa: 12 anos.

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