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Lançamento

Exposição das Tripas

Paulo Sandrini. Kafka Edições, 144 págs., R$ 42. Poesia e Contos. Lançamento neste sábado, das 16h às 20 horas, na Livraria Arte & Letra (Al. Pres. Taunay, 130, Batel), (41) 3039-6895. Entrada gratuita.

Quanto à forma, o livro Exposição das Tripas, quinto trabalho do escritor Paulo Sandrini é difícil de definir. A voz discursiva é de prosa. A narrativa é subjetiva, cheia de impressões e observações de alguém que olha para um mundo estranho e se sabe tragicamente inserido nele.

A estrutura e a música do texto, no entanto, são as da poesia. Versos que são distribuídos de forma vertical, como prontos para rolar por uma tela e sem pontuação. Isso permite que o leitor reconstrua a sintaxe como melhor lhe convier e experimente uma leitura libertária.

A experimentação formal chega até a capa. Sem o título ou nome do autor em destaque, a capa usa apenas uma fotografia feita por Diego Singh. A lombada do livro é "ladeada por parafusos" que permitem ao leitor desatarraxá-los e reorganizar a editoração dos textos, além de destacar fotos de Singh e ilustrações feitas pelos desenhistas Fabiano Vianna e Danilo Oliveira.

Estas rupturas formais, porém, só se permitem porque não se sobrepõem à qualidade do conteúdo dos textos. Nos 14 contos poéticos da obra, Sandrini modula uma voz sufocante e pessoal e expõe uma visão sobre a existência e a morte. O resultado final é literatura robusta e visceral.

Em um texto de apresentação, ao final do livro, o escritor Ricardo Corona observa que a intenção do autor é "aferir à palavra a sujeira da história". "[Sandrini] expõe a palavra a partir do seu bagaço, articulando-a como matéria viva, rastro rasurado, coisa deflagrada, integrando-a a outras construções, sobretudo àqueles que fazemos ou que deveríamos fazer coletivamente."

Corona se refere a um aspecto político da literatura de Sandrini que sabe tomar posição contra as hipocrisias sociais e consciências corrompidas. Há no conjunto de textos uma sensação permanente de estranhamento em relação ao mundo que só não soa sombria e pessimista, pois o narrador compartilha com o leitor a angústia do "não precisava ser assim".

Um dos destaques é o texto "Deviam ser belos dentes", que se assemelha a um poema de lirismo viril ao desconstruir ideais românticos e de beleza e causa surpresa ao revelar-se, em verdade, uma crônica policial. Alguns dos textos foram escritos por Sandrini durante viagens para países do Leste Europeu, como Croácia e Hungria. Neles, o autor percebe que, independente do que os slogans-fetiche como globalização tentem escamotear, o elemento verdadeiro de união dos povos é o seu destino trágico: caminhamos e nos encontraremos todos no mesmo buraco da história. GGG ½

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