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O espetáculo Cordas, Gonzaga e Afins, que reúne Elba Ramalho e os grupos pernambucanos SaGRAMA e Quarteto Encore em uma homenagem a Luiz Gonzaga (1912-1989) promovido pelo programa Natura Musical, poderia ter sido maior em sua apresentação no Guairão, na última sexta-feira.

Com roteiro bem amarrado, cenário e projeções grandiosos e interpretações azeitadas tanto por parte da cantora quanto dos músicos – que já haviam percorrido juntos quatro capitais desde a estreia em agosto – a apresentação foi prejudicada pela sonorização, que fez com que os imponentes arranjos soassem enlatados e sem profundidade. O mesmo ocorreu com a voz, ao menos para quem ficou nas últimas fileiras do teatro.

Uma pena, já que Cordas, Gonzaga e Afins apresenta uma leitura bonita e original da obra do Rei do Baião, ainda que divague em algumas escolhas de repertório, como "Domingo no Parque", que integrou a última turnê de Gilberto Gil justamente em versão orquestral e pareceu deslocada – ainda que o baiano seja um discípulo de Gonzagão.

A interpretação de Elba, em sua dramaticidade vocal e corporal, foi potencializada por um competente trabalho musical que conseguiu imprimir sofisticação em uma abordagem voltada para um público amplo. O retrato do sertão mais forte no imaginário coletivo, que marcou a primeira metade do show – de "Pau de Arara" a "Funeral de um Lavrador" (de Chico Buarque sobre texto de João Cabral de Melo Neto) –, foi intenso e comovente, mas desviou da estética da miséria e desaguou em festa junina.

Falhas técnicas à parte, o show ofereceu uma imersão neste complexo universo da cultura nordestina, algo bem-vindo em um momento em que a polarização no cenário político brasileiro motivou gritos preconceituosos contra o Nordeste em uma quantidade maior que os mais pessimistas poderiam supor.

Havia, aliás, algo no ar. Alguém na plateia não se conteve em gritar: "Viva o Nordeste!". A resposta de Elba só veio no fim do show, em um canto a capella de um trecho de "Vozes da Seca", de Gonzaga – uma amostra do quanto o cenário do país é muito mais complexo que o de uma suposta divisão.

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