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Esqueça as paisagens ensolaradas e os figurinos de cores berrantes. Miami Vice, em cartaz a partir de hoje no Brasil, é uma versão dark do seriado de tevê dos anos 80. E com ênfase no sexo e na violência. Ponto para o diretor Michael Mann, que não caiu na tentação de explorar o humor involuntário do programa original, hoje cultuado como pérola do trash.

Mann, um dos criadores e produtores da série, agora explora uma Miami noturna e sinistra, pouco parecida com a dos cartões postais. Uma cidade corrompida por criminosos que preferem se ver como "homens de negócios". Agindo pelas bordas, a serviço dos figurões, há uma gama variada de bandidos menores, separados por grupos étnicos (russos, colombianos, chineses, etc). É o cenário perfeito para a criação de conexões internacionais complexas e altamente lucrativas, típicas do tráfico globalizado – de armas, drogas ou produtos piratas.

Uma dessas redes, ao descobrir a presença de elementos infiltrados, dá um fim em dois agentes federais e um informante. Amigos deste último, os policiais Ricardo "Rico" Tubbs e James "Sonny" Crockett (nomes impagáveis, por sinal) são destacados para investigar o caso. Não demora muito e eles percebem que estão lidando com o primeiro escalão do crime organizado. Para conhecer melhor a empresa – quadrilha é pouco para definir o grupo milionário –, só mesmo se infiltrando nela também. A dupla então se disfarça de transportadora de "mercadorias" e inicia uma série de missões, que incluem passagens pelo Haiti, Colômbia, Paraguai e Brasil (todas filmadas in loco).

Jamie Foxx (vencedor do Oscar por Ray) substitui Philip Michael Thomas no papel de Rico, o tira educado e conciliador. Colin Farrell (de Alexandre), no lugar de Don Johnson, interpreta Sonny, o parceiro bronco e esquentadinho. Quem aparece mais é o persoangem de Farrell, que se envolve com a mulher do chefão inimigo, a sino-cubana Isabella (Gong Li, de Memórias de uma Gueixa). O romance dos dois define os rumos da trama e retoma uma temática recorrente nos filmes de Mann: o encontro entre "bons" e "maus", que acabam se confundindo e questionando suas identidades. Foi assim em Fogo Contra Fogo, Colateral, O Informante.

Como não poderia deixar de ser, Miami Vice ainda serve de vitrine para outras indústrias. Além de blasers alinhados (sem as ombreiras horrorosas dos anos 80), Rico e Sonny exibem um sem-número de carros, celulares, armas, lanchas e aviões, entre outros brinquedos masculinos de ponta. Mas os principais produtos testados no longa não aparecem na tela: são as câmeras digitais de alta definição utilizadas por Mann. Mestre nos closes, o diretor usa os novos recursos para filmar os atores ainda mais de perto. O resultado é a sensação de estar ao lado deles, participando das cenas. O que torna Miami Vice uma experiência visual intensa, obrigatória para os cinéfilos de plantão. GGGG

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