Opinião
Livro tem acertos, mas peca em análise apressada
O "clube dos 27" é antes um slogan atraente do que uma maldição do rock. O fato das quatro primeiras mortes Jones, Morrison, Joplin e Hendrix terem acontecido em dois anos, com artistas da mesma geração no auge do sucesso, tornou a lenda inevitável.
A análise estatística feita pelo livro de Sounes, porém, mostra que tudo é só uma triste coincidência. Um dos méritos do livro, ao lado dos bem cuidados perfis e reconstituições das últimas horas de vida de cada músico.
Ao tentar explicar as raízes da autodestruição, Sounes derrapa em psicanálise apressada. Talvez por já estar velho demais para morrer jovem, não aceito que traumas infantis e famílias desestruturadas estejam no mesmo patamar do problema central, que é a dependência química. Ainda assim, vale a leitura. GGG
Quem é?
Biógrafo prepara livro sobre Lou Reed
O jornalista inglês Howard Sounes é um dos autores mais bem-sucedidos com livros de não ficção da atualidade. Já assinou perfis de Charles Bukowski, Paul McCartney e Bob Dylan e outros livros reportagens sobre homicídios e assaltos famosos na Inglaterra. Sounes também faz documentários para rádio e televisão e atualmente trabalha em uma biografia sobre a vida do músico Lou Reed (1942-2013).
Lançamento
Amy e o Clube dos 27
Howard Sounes. Tradução de Juliana Cunha. Leya, 416 págs., R$ 49. Biografia.
No dia 23 de julho de 2011, às dez horas da manhã, o guarda-costas Andrew Morris foi até o quarto da cantora Amy Winehouse em seu casarão em Camden Town, noroeste de Londres. Era sua rotina de todas as manhãs: conferir se a "chefe" precisava de alguma coisa. Encontrou-a deitada de bruços, aparentemente em sono profundo, o laptop aberto e três garrafas de vodca vazias em volta da cama.
Horas depois, já no meio da tarde, o segurança voltou ao quarto e viu um cenário exatamente igual.
Assustado, chamou uma ambulância, mas a estrela já tinha morrido há horas por envenenamento alcoólico como revelou depois a autópsia. Ela tinha 27 anos.
A morte prematura, ainda que não surpreendente, de Amy a transformou em um integrante do "clube" das estrelas pop que morreram com a mesma idade.
Antes dela, o líder do Nirvana Kurt Cobain (1967-1994), o guitarrista dos Rolling Stones Brian Jones (1942-1969), o vocalista do The Doors Jim Morrison (1943-1971), Janis Joplin (1943-1970) e Jimi Hendrix (1942-1970) já tinham sido vítimas da mesma coincidência mórbida. Seria este o limite de tempo de uma vida de excessos e rock-and-roll?
"Clube idiota"
Intrigado com este "buraco negro" do showbiz, o jornalista e biógrafo londrino Howard Sounes decidiu investigá-lo no livro Amy e o Clube dos 27. A expressão no título foi cunhada pela mãe de Cobain, que na primeira entrevista após a morte do filho disse: "Agora ele foi embora, entrou para esse clube idiota. Eu disse para ele não fazer isso..."
Para tanto, o autor traçou perfis biográficos para saber se as respectivas trajetórias poderiam explicar o destino de cada um dos membros. Antes de entrar nos detalhes da vida e morte de cada músico, porém, pesquisou se mortes aos 27 anos são estatisticamente significativas.
Ele compilou uma lista com 3,4 mil nomes de músicos mortos entre 1908 e 2012. Achou 50 nomes de artistas que perderam a vida aos 27. Mesmo que haja um pico de mortes de músicos com esta idade, não basta para afirmar que haja uma maldição. "O clube dos 27 se tornou tão notório que todo músico que morre com essa idade é imediatamente incluído no grupo", afirma Sounes.
Suicidas
Ele passa então a investigar as semelhanças entre os casos dos seis nomes mais notórios que morreram no auge do sucesso. Para o autor, todos os integrantes do clube eram pessoas, "inteligentes, talentosas e perturbadas".
Ao analisar o comportamento autodestrutivo do sexteto, Sounes coloca na balança tanto os aspectos psicológicos como históricos familiares problemáticos, alguns casos parecidos de divórcios traumáticos dos pais e outros problemas corriqueiros. E também o fato de que todos bebiam e consumiam drogas de maneira contumaz.
Ao final, o autor defende a tese de que todos os seis membros do clube dos 27 retratados no livro podem ser considerados suicidas. "Mesmo que eles não tenham se matado de maneira direta, como fez Kurt Cobain, que simplesmente deu um tiro na cabeça. Para o viciado em drogas e para o alcoólatra crônico, a decisão é desenhada ao longo de anos", afirma.
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