• Carregando...
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil | Reprodução
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil| Foto: Reprodução

A proximidade geográfica entre os países da América Latina não se repete nas salas de cinema: existe um grande desconhecimento dos brasileiros da maior parte dos filmes contemporâneos produzidos nos países vizinhos. E vice-versa. Os motivos são vários, e vão do desinteresse das distribuidoras em comprar as cópias à uma dificuldade de identificação com o público.

"É a velha questão do ovo ou da galinha: exibidores reclamam que as narrativas são muito fortes e supostamente causariam desconforto no público, que por sua vez reclama que a produção não chega", aponta o pesquisador e professor da Unicamp Fernão Pessoa Ramos, autor de vários livros sobre cinema brasileiro.

Atualmente, na América Latina, existem três eixos principais de produção cinematográfica: a Argentina, com o chamado Novo Cinema Argentino (NCA); o México, com obras mais próximas aos padrões hollywoodianos; e o Brasil, com um cinema que ainda discute a complexa situação social do país.

"Há um imenso preconceito contra o cinema latino-americano. Só o argentino escapa desse sentimento, pois a fama da Argentina, entre nós, é de um mix de Itália e Espanha (com toques ingleses). Européia, portanto", opina a jornalista e pesquisadora de cinema Maria do Rosário Caetano.

Os filmes produzidos na Argentina nos últimos anos priorizam temas mais próximos da realidade social do país, pós-crise econômica. "É um país muito mais homogêneo que o Brasil. Os filmes deles se desenvolvem dentro da classe média, então há espaço para produções mais intimistas, comédias etc. Talvez a única diretora que fuja a essa regra seja Lucrécia Martel (O Pântano), que tem um pouco do dilaceramento do cinema brasileiro", explica Ramos.

Fora desse eixo, existem produções de fôlego, mas que raramente atingem um público mais amplo (leia quadro ao lado). Na Colômbia, por exemplo, o longa Maria Cheia de Graça, uma co-produção com os Estados Unidos, dirigido pelo estreante Joshua Marston, foi bastante premiado em festivais e recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz, para a protagonista Catalina Sandino Moreno, que interpreta uma jovem grávida que se submete a transportar droga no estômago para conseguir dinheiro.

"A hegemonia de Hollywood ‘educou’ gerações para um determinado tipo de filme, com narrativas mais lineares, tecnologia de ponta e atores carismáticos. Filmes de puro entretenimento e com finais felizes. Quem quebra estas regras, regra geral, se dá mal", resume Maria do Rosário.

A discussão política continua presente em algumas produções, mas já não é hegemônica como durante os anos 60. As relações familiares ganham espaço (O Filho da Noiva), assim como a sexualidade (Não Diga A Ninguém e Dependência Sexual) e as drogas e o tráfico (Nossa Senhora dos Assassinos).

O cinema documental também cresceu nos últimos anos, e vive uma espécie de boom, segundo o pesquisador Fernão Pessoa Ramos.

Festivais

Com uma exibição bastante restrita nas salas de cinema e poucos lançamentos em DVD – à exceção dos títulos mais conhecidos –, são os festivais os principais responsáveis pela divulgação do cinema latino-americano.

"Acabam sendo a vitrine segura para escoar pelo menos os filmes mais autorais", aponta Maria do Rosário, que destaca as mostras do Rio de Janeiro e São Paulo como espaços privilegiados de exibição – com média de 20 filmes cada; o Festival de Gramado, que recebe filmes latinos; e o Cine Ceará, que se especializou em produções ibero-americanas nas últimas duas edições.

Fernão Pessoa Ramos concorda com a importância dos festivais, principalmente para divulgar filmes de circuitos mais alternativos – como o latino-americano. Mas faz ressalvas: "No Brasil os festivais estão substituindo as salas. São aplicados muitos recursos que poderiam ser usados em outras maneiras de incentivar o cinema".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]